Em boa hora, os líderes partidários decidiram retirar da pauta da Câmara dos Deputados esta pouca-vergonha: o projeto de resolução que praticamente concedia anistia a mensaleiros, sanguessugas e outras excelências envolvidas em malfeitorias.
Não satisfeita em ser a pior da história do Parlamento brasileiro – sem favor nenhum, a mais corrupta e mais medíocre, em termos de produção legislativa – a legislatura que termina em 31 de janeiro – já vai tarde! – pretendia encerrar suas atividades com chave de ouro: anistiando colegas.
A manobra era tão esperta, que foi urdida e começou a ser realizada quase clandestinamente.
Praticamente ninguém ficou sabendo da reunião da Mesa da Câmara, em 29 de novembro, em que uma proposta do atual primeiro vice-presidente, deputado José Thomas Nonô (PFL/AL), foi aprovada A reunião contou com oito dos dez membros da Mesa, inclusive seu presidente, Aldo Rebelo, candidatíssimo à reeleição.
Pela proposta, só se poderia reabrir processos de quebra de decoro parlamentar se fatos novos fossem anexados às denúncias atuais. Ou seja, a menos que se descobrissem novas contas de Marcos Valério, com saques personalizados, os recém-eleitos deputados Waldemar da Costa Neto e Paulo Rocha, que renunciaram para escapar ao processo e foram reeleitos, estariam praticamente absolvidos. E outros tantos sanguessugas estariam na mesma situação.
Presentão de Natal, não é mesmo?
Partidos como o PT, o PMDB, o PL, o PCdoB, o PP e o PSC concordaram em assinar o pedido de urgência urgentíssima para votação em plenário.
Foi quando a imprensa deu o alarme. Rádios, TVs, jornais, todos, inclusive esta colunista e este blog, divulgaram o mais amplamente possível a iminência da consumação da malandragem.
Louve-se a atitude dos deputados e líderes do PFL, que ameaçaram recorrer ao STF se a votação acontecesse.
Durante todo o dia, internautas se mobilizaram e passaram a enviar correspondência aos deputados.
Como resultado, o projeto foi retirado da pauta. Até quando, só Deus sabe.
Depois, suas Excelências não entendem por que os políticos estão sempre na lanterninha de pesquisas de opinião que mostram a credibilidade de várias instituições no Brasil.
Suas Excelências podem não saber por que estão apanhando, mas a sociedade sabe muito bem por que está batendo.