Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 02, 2006

O álcool e o cérebro dos adolescentes




Inimigo íntimo

Um alerta da ciência condena um hábito
que, em geral, começa em casa: o consumo
exagerado de álcool na adolescência pode
causar danos em regiões do cérebro ligadas
à memória e ao aprendizado, além de aumentar
a propensão dos jovens ao alcoolismo


Ronaldo Soares


Montagem com fotos de Pedro Rubens e Reginaldo Teixeira



Quando tinha 11 anos, o carioca Fabrício tomou seus primeiros goles de cerveja. Estava na companhia do irmão e de um primo em uma festa. Com 15 anos, acompanhado do pai, embriagou-se pela primeira vez. Aos 16, munido de uma carteira de motorista falsa, ele saía para dirigir – quase sempre bêbado – e volta e meia se metia em brigas de rua. A presença marcante do álcool na adolescência de Fabrício (nome fictício), hoje um DJ de 27 anos, não é um caso isolado. Poderia ter se dado na imensa maioria dos lares brasileiros, em que o consumo de bebida alcoólica por menores de idade é uma prática não só tolerada como às vezes incentivada pelos próprios pais. Sempre foi assim. O que começa a mudar agora é que esse tipo de comportamento, normalmente encarado como uma das muitas transgressões típicas da adolescência, às quais as famílias não dão grande importância, vem assumindo os contornos de calamidade no meio científico. As pesquisas dedicadas ao tema se intensificaram nos últimos dez anos. A principal constatação dos cientistas é que o consumo de álcool na adolescência e na juventude deixa marcas indeléveis no cérebro. Beber é muito mais danoso para o cérebro jovem do que para o dos adultos. Os efeitos a longo prazo são bastante indesejáveis. Eles variam de déficits de aprendizagem, falhas permanentes de memória, dificuldade de autocontrole a ausência de motivação. Além disso, o abuso de álcool na juventude faz com que o jovem fique cinco vezes mais propenso a se tornar alcoólatra na idade adulta.

Atenção! A esta altura da reportagem entra em funcionamento o sistema de defesa de todo adulto perfeitamente normal hoje que se lembra de seus porres homéricos na juventude. "Eu enchi a cara na juventude e não me tornei alcoólatra" é uma reação tão pouco científica quanto outras duas clássicas chicanas mentais: "Eu apanhei muito de meus pais na infância e nem por isso tenho traumas ou os odeio" ou "Bati muito racha a 100 quilômetros por hora nas madrugadas e estou aqui vivo e forte – além de ter me tornado um motorista muito responsável". Do ponto de vista pessoal, essas reações devem ser vistas como a fala de sobreviventes, de pessoas que desafiaram o perigo e saíram vivas, intactas, para contar a história. Do ponto de vista da ciência, os sobreviventes são apenas a prova de que o perigo é real e de que não vale a pena fechar os olhos a que os filhos corram os mesmos riscos. A boa sorte, infelizmente, não é hereditária.


Oscar Cabral
DELINQÜÊNCIA
Documentos falsos: adolescentes como os cariocas André, Arlindo e Maurício usam identidades fabricadas para burlar o controle na portaria de estabelecimentos que não permitem a entrada de menores

Os estudos nessa área ainda precisam ser aprofundados, mas as descobertas feitas até agora são alarmantes. Um dos maiores especialistas no assunto, o pesquisador americano Aaron White, anunciou que existe um "sentido de urgência" na investigação científica sobre uso de álcool na adolescência. Diz ele: "Estamos na mesma situação em que nos encontrávamos há trinta anos, quando se tornou evidente o risco que corriam os bebês de gestantes que ingeriam álcool. Era urgente advertir todas as grávidas o mais rápido possível". As pesquisas (veja quadro) são unânimes em apontar que o uso exagerado de álcool na adolescência afeta principalmente habilidades cognitivas do cérebro, como memória e aprendizado. Um dos estudos mais completos é o da equipe da psiquiatra americana Susan Tapert, na Universidade da Califórnia. Tapert estudou o cérebro de jovens menores de idade com histórico de consumo de álcool. Ela descobriu em todos eles um dano variável mas permanente em uma região cerebral conhecida como hipocampo. Essa estrutura neuronial é parte do chamado sistema límbico. Ela aparece nos dois hemisférios cerebrais e, de forma pouco conhecida pelos cientistas, é responsável pela navegação espacial e pela memória. Não por acaso, as doenças degenerativas do cérebro, como Alzheimer, são mais cruéis quando destroem as células nervosas do hipocampo. A exposição do hipocampo ao álcool em tenra idade é uma temeridade que os cientistas sustentam que deve ser evitada a todo custo. Disse Susan Tapert a VEJA: "O cérebro do adolescente tem grande plasticidade e teoricamente poderia se recuperar naturalmente de alguns dos danos provocados pelo álcool. Isso, no entanto, precisa ser provado de modo científico".

As principais descobertas feitas até agora revelam que:

O álcool pode causar danos ao hipocampo, cujo desenvolvimento mais acentuado ocorre a partir do fim da adolescência. Testes em cobaias mostraram que o álcool deixa mais lentos os neurônios envolvidos na formação de novas memórias, o que pode ser a explicação para lapsos em jovens humanos.

Adolescentes de 15 a 16 anos que haviam se embebedado pelo menos 100 vezes na vida se saíram pior em testes de memória do que seus equivalentes sóbrios. Além disso, apresentavam hipocampo menor que o dos que não bebiam.

O nível de atividade cerebral durante testes de memória e atenção realizados com uso de ressonância magnética funcional (que mede a alteração dos níveis de oxigênio no cérebro) foi menor em adolescentes com histórico de bebedeiras.

Dos adultos que haviam começado a beber antes dos 14 anos, 47% se tornaram dependentes; entre os que iniciaram o consumo a partir dos 21 anos, o porcentual de dependência foi de 9%.


Fabiano Accorsi
SALTO PARA A MORTE
Alessandra: fugindo da polícia para não ser detida por andar de moto embriagada, ela se atirou às margens do Rio Tietê e não morreu por milagre, mas até hoje sente os efeitos do tombo

Dois fatores em especial chamam a atenção dos pesquisadores e tornam esse cenário ainda mais sombrio. Primeiro, a iniciação ao álcool se dá cada vez mais cedo. No Brasil, ela ocorre aos 12 anos e meio, enquanto nos anos 90 acontecia aos 14. Nos Estados Unidos, o primeiro uso se dava entre os 17 e os 18 anos até meados da década de 60. Atualmente, está na faixa dos 14 anos. O outro motivo de apreensão – justamente por ser o que expõe os jovens a possíveis danos cerebrais – é que eles estão adotando como hábito beber exageradamente, e não apenas nos fins de semana. Essa prática, descrita em inglês como binge drinking, é a famosa bebedeira, ou suas variantes país afora para designar consumo excessivo de álcool, como "encher a cara", "tomar todas", "meter o pé na jaca" ou "enxugar o copo". Apesar das inúmeras referências jocosas criadas pelo anedotário popular, não há nada de engraçado nesse comportamento, principalmente entre os mais jovens. Porque, além dos danos neurológicos a longo prazo, o adolescente fica exposto a riscos mais imediatos, como envolvimento em acidentes de trânsito, casos de violência sexual, brigas e sexo sem proteção.

Quem circula por locais onde adolescentes costumam se reunir para beber percebe a gravidade da situação. Embora seja proibida a venda de bebidas a menores de 18 anos, meninos e meninas bebem quanto querem e nos mais variados locais: postos de gasolina, bares próximos a escolas, boates, clubes e festas. Se o local restringe a entrada de menores, a solução é simples: os adolescentes pegam carona com grupos de amigos maiores de idade para iludir o controle na portaria. Ou então partem para a delinqüência mesmo, falsificando documentos. O carioca Maurício, 16 anos, se orgulha de ter mais de vinte documentos falsos, entre diferentes versões de RG e carteirinhas de universitário. Um de seus amigos de bebedeiras, André, também de 16 anos, conhece os macetes para "envelhecer" uma carteira de identidade postiça. Diz ele: "É só passar borra de café para escurecer o papel, amassar um pouco e morder a borda do plástico para parecer que o documento não é muito novinho. Tem boate em que a pessoa olha e até percebe que é falso, mas deixa entrar assim mesmo".

Oscar Cabral
DIREÇÃO PERIGOSA
Paulo Victor: o estudante perdeu a conta de quantas vezes bateu o carro dirigindo bêbado quando era adolescente; no mais grave dos acidentes, ele perdeu a consciência, só acordou no hospital e teve de ficar dois meses de cama


O repertório de bebidas é mais amplo do que os truques para burlar o frágil controle na entrada. As preferidas dos adolescentes são as de sabor adocicado, como os coquetéis de frutas cujos nomes são de péssimo gosto e não têm nenhuma relação com o potencial etílico de suas composições – sex on the beach (vodca com groselha, laranja e pêssego) e anjo mexicano (tequila com absinto), entre outros. Nesse quesito, um dos mais apreciados é o gummy, mistura de vodca com suco em pó que costuma ser usada como chamariz em boates, já incluída no preço da entrada. Outra febre entre os adolescentes são as chamadas alcopops, bebidas gasosas que contêm essência de fruta adicionada a algum destilado. Também conhecidas como bebidas ice, as alcopops possuem teor alcoólico semelhante ao da cerveja e, por seu sabor adocicado, são mais atraentes para quem está começando a beber. Tornaram-se tão populares na Europa e nos Estados Unidos que alguns locais decidiram sobretaxá-las para conter seu avanço.

No Brasil, elas também ganharam terreno. Pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) detectou no ano passado o hábito de adolescentes misturarem destilados (em geral, vodca e uísque) a bebidas energéticas. Foi a primeira vez que a mistura foi mencionada desde que o Cebrid começou, em 1987, a série de pesquisas entre alunos dos ensinos médio e fundamental do Brasil. "Essas alcopops se destinam claramente ao segmento de mercado dos menores de idade e são muito perigosas, pois têm um sabor agradável que a cerveja não tem. Muitas vezes os supermercados as expõem na seção de refrigerante, o que é um absurdo", afirma a psiquiatra Analice Gigliotti. Segundo ela, a introdução das ice no mercado é uma das explicações para o número cada vez maior de meninas consumindo álcool. Para o presidente da Associação Médica Americana (AMA), J. Edward Hill, as alcopops são "difundidas como alegres, sexy e bacanas, como se fossem menos arriscadas de beber, mas suas conseqüências para a saúde são tudo, menos sexy ou bacanas". O estudante Arlindo, 17 anos, descobriu isso da pior maneira possível. Em uma de suas investidas noturnas com os amigos André e Maurício, alternou copos de vinho com bebidas ice. "Já cheguei carregado. Comecei a dançar, subi num tablado, caí num vão e cortei o braço todo", relata.


André Fossati/1º Plano
COMPORTAMENTO DESTRUTIVO
Adolescentes que têm as bebedeiras como hábito ficam sujeitos a acidentes, brigas e sexo sem proteção

Arlindo teve sorte. As noitadas nem sempre terminam bem. Em um episódio que comoveu o Rio de Janeiro em setembro, um carro com cinco jovens que haviam passado a noite em uma boate capotou e bateu numa árvore. Todos os ocupantes morreram. As vítimas eram de famílias de classe média ou média alta e tinham entre 16 e 22 anos de idade. O rapaz que estava ao volante, um jovem de 18 anos, havia bebido mais do que duas vezes o permitido para dirigir. O episódio está longe de ser um caso isolado. No Brasil, metade dos acidentes automobilísticos fatais está ligada ao consumo de álcool entre jovens de 18 a 25 anos. A paulista Alessandra Érica Elias, 33 anos, que participa de um programa de desintoxicação para dependentes químicos, diz que por milagre não se tornou uma vítima da combinação de álcool com direção na adolescência. Aos 17 anos, pilotando embriagada uma moto em alta velocidade, tentou escapar de uma perseguição policial e se atirou às margens do Rio Tietê, em São Paulo. "Fiquei horas desacordada e até hoje sinto dores na perna por causa do acidente", conta. O estudante carioca Paulo Victor Mombach, 23 anos, por pouco também não entrou nas estatísticas. Ele perdeu a conta de quantas vezes na adolescência se envolveu em acidentes ao dirigir embriagado. No mais grave deles, acordou no hospital, todo imobilizado, e ficou dois meses de cama. "Meus pais me davam bronca, botavam de castigo, tiravam a mesada, mas não adiantava. Eu não tinha maturidade para enxergar que estava exagerando", diz.

A combinação de álcool com direção torna-se especialmente mortal com a chegada das férias e das festas de fim de ano, quando ocorre um verdadeiro banho de sangue nas rodovias. Nos Estados Unidos, por exemplo, o período entre o Natal e o réveillon é conhecido pelas autoridades como "a temporada mortal". Das mortes no trânsito ocorridas na noite de Natal, 47,4% estão relacionadas ao consumo de álcool, acima da média dos dias comuns (39%). No Ano-Novo, o índice de óbitos associados ao consumo de bebida é ainda mais impressionante: salta para quase 70%. O álcool começa a afetar a habilidade do motorista a partir de uma taxa de concentração no sangue bem abaixo dos limites legais estabelecidos (veja o quadro).


Oscar Cabral
EXEMPLO CASEIRO
Fabrício: o DJ carioca começou a beber com 11 anos de idade e aos 15 tomou seu primeiro porre, em companhia do pai. Segundo os especialistas, o comportamento dos adultos é fundamental para definir a relação dos filhos com o álcool. Atitudes negativas dos pais podem levar os filhos a atos destrutivos como se envolver em brigas, matar aula e mentir

O Brasil pode se orgulhar de ter um limite mais rígido do que o dos Estados Unidos na tolerância ao teor de álcool no sangue do motorista, mas essa é nossa única vantagem. Enquanto os americanos têm mais de 2.000 leis que regulam o beber e dirigir – lá, a infração é punida até com prisão –, no Brasil nem o simples teste do bafômetro o motorista é obrigado a fazer. "Isso mostra que uma das principais causas de acidentes de trânsito no Brasil é simplesmente ignorada. Aqui, beber e dirigir não é considerado crime, é um comportamento tolerado", diz Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad). Também nesse caso, os jovens são as vítimas potenciais. Estudos americanos indicam que, quanto mais jovem o motorista que consumiu álcool, mais risco ele corre de se envolver em acidentes fatais.

A dificuldade de entender o perigo da associação entre bebida e direção é algo típico da adolescência. Nessa fase da vida, a pessoa passa por intensas mudanças físicas e emocionais. Mapeamentos do cérebro mostram que as estruturas responsáveis pelo controle dos impulsos e que ajudam os indivíduos a definir o que é certo e o que é errado ainda não estão completamente formadas. Portanto, o adolescente, por natureza, não tem condições de avaliar as conseqüências de seus atos e vive se metendo em encrenca – daí a noção, muito comum, de que se trata de uma fase problemática. "Na adolescência, ocorre uma série de transformações que fazem com que a pessoa fique confusa. É uma confusão boa, de descobrir o que ela vai fazer da vida. Mas, se nessa confusão entram álcool e drogas, fica tudo mais difícil", afirma a psicóloga Ilana Pinsky, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Não há como definir o momento exato em que começa e em que termina a adolescência. Sabe-se que seu início se dá ao longo de uma mudança ocorrida entre os 7 e os 11 anos de idade, quando crescem certas regiões cerebrais ligadas à linguagem. A transformação maior acontece por volta dos 18 anos e pode avançar até os 25, quando o córtex pré-frontal amadurece, consolidando o tal senso de responsabilidade que em geral falta aos adolescentes. Cientistas acreditam que esse longo período de desenvolvimento do cérebro pode ser a explicação para comportamentos típicos da adolescência, como a busca por situações novas e potencialmente perigosas, entre elas experimentar álcool e outras drogas.


Mirian Fichtner/Pluf Fotografias
O PAPEL DA ESCOLA
Porto Alegre: a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) está coordenando um trabalho pioneiro no país. Em parceria com escolas da cidade, passou a orientar os pais de alunos a deixar de servir bebidas alcoólicas a menores em festas de família. A corrente antiálcool formada pela iniciativa já conseguiu evitar a presença de bebidas em festas de 15 anos promovidas por pais que aderiram ao programa

Como, no caso do álcool, em geral a primeira experiência se dá em casa e com a anuência da família, o problema torna-se particularmente difícil de ser enfrentado. O fato de o álcool ser uma droga legalizada gera interpretações equivocadas por parte dos pais. Especialista em adolescentes dependentes químicos, o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp, diz que existe "uma grande preocupação da sociedade em torno das drogas ilícitas, mas um descuido completo em relação às drogas legalizadas". Ele já se acostumou a atender pais desesperados quando descobrem que o filho consome maconha. "Quando você vai ver, o menino fuma maconha uma vez por mês, mas tem um irmão que bebe três vezes por semana, e os pais não estão nem aí. A questão não é a legalidade ou a ilegalidade da substância, e sim o padrão de uso", afirma. Os especialistas advertem que o exemplo da família é decisivo para definir a relação dos filhos com o álcool (veja quadro). Para a americana Susan Tapert, a palavra-chave é moderação. Diz ela: "Os pais devem estar atentos a quanto e de que maneira eles bebem na presença das crianças".

A influência dos pais no comportamento dos filhos é tema controverso na psicologia. Há quem considere desprezível o peso do pai e da mãe na personalidade juvenil, que seria influenciada muito mais pelo convívio com pessoas alheias ao ambiente doméstico, como amigos e colegas de turma. Outra corrente prega a hegemonia dos genes para explicar a maioria das características pessoais, da timidez à propensão à violência. Um dos maiores estudos já feitos sobre adolescentes no Brasil reforça a tese de que os pais têm, sim, peso fundamental na definição do tipo de adulto que o filho vai ser. Nos últimos dez anos, a psicóloga Lidia Weber, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ouviu mais de 10.000 adolescentes de várias classes sociais em todo o país. O objetivo era medir a associação entre os relacionamentos em casa e a incidência dos chamados comportamentos de risco. A pesquisa concluiu que há relação direta entre atitudes negativas dos pais – bater nos filhos, xingar ou ser omisso na educação – e o comportamento destrutivo dos jovens, como se envolver em brigas, faltar a aulas, usar drogas e mentir. Constatou-se que cerca de 96% dos filhos com bom relacionamento em família nunca haviam se drogado. Já entre os que relataram problemas em casa, 59% usavam regularmente drogas como maconha, crack ou heroína.

Apesar disso, não se pode atribuir aos pais toda a culpa pelo descontrole no consumo de álcool entre adolescentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o álcool um problema de saúde pública e, como tal, é preciso enfrentá-lo a partir da formulação de políticas governamentais. No caso do Brasil, a OMS sugere que se adote nessa área uma política inspirada na do controle do tabaco, em que o país virou referência mundial. As práticas implantadas aqui reduziram de 39% para 19% o número de fumantes em 25 anos, o que significou menos 36 milhões de brasileiros consumindo nicotina. A principal bandeira dos especialistas que tentam incluir a discussão sobre o álcool na agenda nacional é a proibição total da propaganda de bebidas. Países que adotaram essa medida reduziram em 30% os acidentes fatais de carro.

Embora a ciência venha mostrando que é preciso fazer algo urgentemente para frear o abuso de álcool na adolescência, o alerta parece não ter se transformado ainda em um clamor da sociedade. "Normalmente existe um intervalo de vinte, trinta anos entre o que a ciência estabelece e o que as pessoas passam a praticar. Foi assim, por exemplo, com as doenças circulatórias", diz Dartiu Xavier da Silveira. O alerta só vai ganhar contornos de clamor social quando as descobertas da ciência sobre os efeitos do álcool em excesso no cérebro dos mais jovens forem tão propagadas quanto os riscos a que se expõem as gestantes que bebem ou fumam. Isso demora. Até lá a regra de ouro é: menor não toma bebida alcoólica. Se tomar, que beba pouco e só em algumas ocasiões.

 

Com reportagem de Daniela Pinheiro

 






Foto Reginaldo Teixeira





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