Panorama Econômico |
O Globo |
21/12/2006 |
Seis milhões de brasileiros moram sozinhos. O número de mulheres chefes de família aumentou 35% em dez anos. O Banco Central admitiu que o país vai crescer só 3%. O governo adiou o pacote econômico. O IPCA-15 ficou abaixo de 3%. As contas do governo fecharam em déficit em novembro. O Congresso está em impasse na questão do aumento salarial. Haverá um país, talvez a Suíça, onde falte tema a um colunista. Mas esse país, definitivamente, não é o Brasil. As mulheres são a maioria dos que moram sozinhos ou, como diz a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, "entre os domicílios unipessoais". Estão sozinhas porque querem morar assim, são independentes, têm relações afetivas modernas ou o dado revela o aumento da solidão? Especulações que não cabem no estudo do IBGE. Ele mostra apenas a sociedade brasileira em movimento, e alguns fenômenos estranhos. Por que em Santa Catarina o percentual de mulheres chefes de família aumentou tão mais que na média do país: 68% em dez anos? Bem menos sujeito às especulações é o relatório trimestral de inflação que o BC divulgou ontem. Ele faz uma análise otimista da conjuntura brasileira, apesar do recuo de 0,5 ponto percentual na previsão de crescimento do ano. Para o Banco Central, a inflação continuará caindo e vai chegar, ao fim do primeiro trimestre de 2007, em 2,7% no acumulado de 12 meses. Aí, ela volta a subir no cenário mais provável. Mas nada que preocupe. Vai subindo para convergir com a meta de 4,5% e isso porque a demanda está crescendo, e os juros estão caindo. Segundo o BC, o consumo tem aumentado de forma consistente. Entre agosto e outubro, as vendas do comércio cresceram acima de 7% em termos anualizados. O aumento da massa salarial, a expansão do crédito e a queda dos juros foram os responsáveis pelo aumento do consumo. Houve mais investimentos na economia, indicando uma expansão futura. "Essa expansão do investimento, associada à consolidação da estabilidade macroeconômica conquistada ao longo dos últimos anos, constitui fator indispensável para que a economia cresça de forma sustentável no médio e longo prazo", diz o BC. Mas o crescimento previsto para o ano que vem está longe dos 5%, ainda que seja melhor que o deste ano: 3,8%. Os dados de aumento do consumo e da renda têm sido confirmados para indicadores de várias fontes. As famílias estão comprando mais. Mas o IBGE divulgou, na sua Síntese dos Indicadores Sociais, queda de 12% na renda do trabalhador de 1995 a 2005. De fato, houve queda, mas o ano com o qual se compara, o de 1995, prejudica o resultado. Em 1995, a renda estava bem alta porque foi logo após a estabilização da economia. De lá para cá, houve crises e oscilações que ajudaram a corroer parte dos ganhos da estabilização. No Relatório de Inflação, o Banco Central disse que o país vive um "processo inequívoco de desinflação", e que entrou em outra fase no seu regime de metas de inflação, "uma nova etapa de consolidação da estabilidade". Este será o terceiro ano seguido em que a meta de inflação será cumprida e, pelas previsões do BC, no cenário mais provável, o Banco continuará cumprindo a meta nos próximos anos. O problema fiscal continua ameaçando quem faz uma análise de mais longo prazo da economia brasileira. Não porque os dados de novembro fecharam com déficit nas contas do governo federal. Isso é conjuntura. Mas por dados mais preocupantes e permanentes, como o déficit da previdência, o aumento da carga tributária, a elevação dos gastos correntes. Desde que foi reeleito, o governo falou muito em corte de gastos e medidas para ajustar as contas, mas, no final, o pacote anunciado foi adiado. O adiamento foi decidido internamente depois que João Santana, o marqueteiro do governo, sugeriu que nada fosse anunciado agora, final de ano, hora de pensar nas festas. Não houve nenhum outro motivo, como veto às medidas, garante-se no governo. Mas o fato é que certas medidas de desoneração, com o passar dos dias, têm ficado mais magras. Outra medida que não faz parte diretamente do pacote, mas que já foi decidida, é a que estabelece regras até 2011 para aumento do salário mínimo. Ele subirá de acordo com a inflação e com o PIB de dois anos antes. Ou seja, em 2008 o PIB que vai reajustar o salário mínimo será o de apenas 3%. Só há chance de um aumento maior do mínimo, por este fator, em 2010, na melhor das hipóteses. Os problemas sociais continuam os mesmos, com alguma melhora aqui outra ali, como mostrou ontem a Síntese dos Indicadores. Há 5,4 milhões de crianças e adolescentes trabalhando, os negros continuam em situação desfavorável. Mas está aumentando o número de negros (pretos e pardos) autodeclarados, talvez pelo trabalho de valorização da identidade racial. E nos sempre inquietantes números da educação, houve melhora para todos os grupos da população. Esta coluna ficou uma salada? O que eu posso fazer, caro leitor ou leitora - seja de domicílio unipessoal ou múltiplo? Aqui não é a Suíça. Acontece coisa pra burro, mesmo numa semana em que normalmente está todo mundo só esperando as férias de fim de ano. E, de vez em quando, quero falar de tudo ao mesmo tempo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, dezembro 21, 2006
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