Amanhã, na Venezuela, acaba uma seqüência de mais de uma dezena de eleições seguidas na América Latina nos últimos doze meses. A onda trouxe novos líderes e alguns velhos discursos de volta à região. O personagem que mais apareceu — para ajudar ou prejudicar — foi Hugo Chávez. O Brasil, de Lula, apoiou novos líderes e participou da campanha de Chávez, mas foi o país que mais perdeu.
Nem todos os eleitos são iguais. Alguns estudiosos da América Latina costumam separar entre a esquerda light e outra que levanta bandeiras e discursos obsoletos. Na primeira, estariam Michelle Bachelet, do Chile, Tabaré Vázquez, do Uruguai, e Lula. No núcleo mais espetaculoso, Evo Morales, na Bolívia, e Hugo Chávez. Néstor Kirchner, que irá às urnas em 2007, é relacionado com esse grupo também.
O presidente da Venezuela se intrometeu em todas as eleições. Nem sempre levou a melhor. No Peru, seu apoio ajudou a derrotar Ollanta Humala. Foi eleito Alan García.
A Colômbia reelegeu o direitista Álvaro Uribe. O México, o também direitista Felipe Calderón, que ontem tomou posse em meio a protestos liderados pelo candidato derrotado López Obrador. A Nicarágua trouxe de volta o velho conhecido Daniel Ortega. No Brasil, Lula fingiu distanciamento do compañero Chávez durante a eleição aqui, mas depois foi lá para, entre fanfarras e uso da máquina pública, atacar as elites e a imprensa, com muita retórica e pouco compromisso com os fatos.
Hugo Chávez, que encerra a temporada, vai se reeleger, mas com menos votos que imaginava. O voto na Venezuela não é obrigatório, e a participação vem caindo ao longo dos anos. Tudo indica que o candidato da oposição, que desta vez se uniu, Manuel Rosales, será derrotado. Chávez ficará por mais seis anos (já está há oito), mas seu projeto é de reeleições sucessivas. O petróleo alto o ajudou. Ele usou divisas crescentes para retomar o crescimento, depois da recessão forte de 2002 e 2003, e diminuir o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza.
Mas o emprego informal hoje está na faixa dos 45%; a inflação em 13%, apesar do controle de preços, e o déficit aumentou.
As eleições nos Estados Unidos deram a vitória aos democratas no Congresso.
Isso sempre significou mais protecionismo, inclusive em relação aos países latinoamericanos, mas o cientista político Octavio Amorim Neto, da FGV, acha que pode ser indicativo de mais que isso: — O que pode haver é uma negligência benigna dos Estados Unidos. Não é ruim que eles não estejam tão próximos. A história mostra que todas as vezes em que os Estados Unidos intervêm é muito ruim para os países latino-americanos.
Muitas vezes, eles agem de forma equivocada, como no golpe contra Hugo Chávez, em 2002, que apoiaram — acredita Octavio Amorim.
O que significam todas essas eleições no continente? Marcelo Coutinho, cientista político do Observatório Sul-Americano do Iuperj, acha que para entender o que se passa na região é preciso deixar de lado velhos conceitos, como o de populismo.
— As eleições consolidaram um quadro de heterogeneidade política, diferente da homogeneidade liberal da década de 90. No Chile, houve um fato interessante: pela primeira vez, o Partido Socialista é majoritário na Concertación, que governa o país desde o fim da ditadura e, pela primeira vez, a Concertación é majoritária no Congresso. Isso está fazendo com que a esquerda traga de volta uma pauta mais social — diz Coutinho.
Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel, especialista em América Latina e que já morou na Venezuela, faz péssima avaliação de Hugo Chávez, mas faz um balanço positivo dos últimos acontecimentos políticos na região.
— Com algumas exceções, a América Latina votou maciçamente pela estabilidade democrática e econômica. Há um grande progresso na região que não está incorporado ao discurso dos políticos que se pode ver nas regiões de periferia tanto de São Paulo, quanto de El Alto, na Bolívia.
O presidente recém-eleito do Equador, Rafael Correa, é ainda uma incógnita na visão de Gall. Coutinho diz que ele quer dar o calote na dívida, como Kirchner; fazer um plebiscito, como recomenda Chávez; atacar as empresas estrangeiras, como Morales, e tem elogiado as políticas sociais de Lula. Um artigo do “Financial Times” chama a atenção para a dificuldade que o novo presidente equatoriano enfrentará por estar “em posição mais fraca que seus outros três antecessores”.
Detalhe: os três não conseguiram completar seus mandatos. O partido de Correa é apenas o terceiro em cadeiras no Legislativo.
Para além de todos estes movimentos, Octavio Amorim Neto considera que há um ponto que merece atenção nos novos caminhos da América Latina: o que acontecerá na transição de Cuba, quando Fidel Castro sair do poder.
O Brasil ficou numa posição esquisita. A liderança de Lula esteve tão esmaecida, que o presidente brasileiro pareceu, algumas vezes, mais um liderado de Hugo Chávez. A torcida por alguns candidatos quebrou uma velha e boa máxima da diplomacia brasileira de não intervenção em assuntos internos dos vizinhos, mas foi o Brasil que mais sofreu os efeitos ruins da retórica esquerdóide de alguns compañeros de Lula. A Petrobras teve que aceitar um contrato prejudicial aos seus interesses na Venezuela; foi invadida, expropriada e assinou um acordo cujos termos permanecem secretos na Bolívia; e pode vir a enfrentar o mesmo problema no Equador. Com os Estados Unidos cada vez mais distantes, exceto da Colômbia, o Brasil cabe no papel de “gringo”, e com uma vantagem: não reclama seus interesses ofendidos.
Entrevista:O Estado inteligente
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