Para o economista , multinacionais são fundamentais no combate à pobreza
Andrea Vialli
Um dos economistas mais influentes da atualidade, o americano Jeffrey Sachs, da Universidade de Columbia, desafiou, em recente visita ao Brasil, as grandes corporações a se engajarem na luta contra a pobreza. Segundo Sachs, as empresas devem ir além de seu papel tradicional - gerar empregos e pagar impostos - e usar seu know-how na área de negócios para levar desenvolvimento às comunidades mais pobres.
"A extrema pobreza mata 20 mil pessoas por dia, e não há razão para que isso continue a acontecer", disse Sachs, que esteve no Brasil na semana passada e falou para uma platéia de 30 empresários no consulado americano, em São Paulo. O economista apresentou algumas das idéias do seu recente livro O Fim da Pobreza, onde defende a globalização para impulsionar o desenvolvimento.
Ele afirma que as grandes corporações têm um papel importante na construção de uma sociedade menos desigual, e critica os movimentos de esquerda contrários à globalização. "Acredito que as multinacionais são as agentes do sucesso para a globalização, e isso é o oposto do que é dito nos fóruns sociais mundiais", diz. "É impossível combater a pobreza sem a globalização."
Sachs é incisivo em relação a empresas das áreas de tecnologia da informação e farmacêuticas - que, segundo ele, devem fazer mais do que já fazem atualmente para sanar problemas como a falta de acesso às novas tecnologias entre os mais pobres e a existência de doenças que ainda matam muito, apesar de terem tratamento há tempos, como a malária. "A tecnologia dessas empresas pode ser usada nesses bolsões de pobreza", diz. "Mesmo nos lugares mais remotos, há tecnologia para triplicar a produção de alimentos, tornar a água potável e tratar doenças, e nisso as empresas podem contribuir." Ele sustenta que o custo disso, para as empresas, seria "marginal".
Segundo Sachs, as empresas devem desenvolver programas de responsabilidade social corporativa não como marketing, e sim pensando nos cidadãos - e consumidores - do futuro. "As empresas têm de pensar em quem não pode pagar pelos produtos que oferecem. Sem incluir essas pessoas, não haverá mercado para atuarem no futuro", diz.
Há 20 anos o economista estuda as razões da pobreza e já trabalhou em mais de 100 países, entre eles Bolívia, Índia e África do Sul. No caso do Brasil, Sachs diz que é preciso mais investimento em educação e capacitação tecnológica. "Será que as grandes empresas instaladas no Brasil estão oferecendo bolsas de estudo e oportunidades de trabalho para os jovens pobres?", questiona. "As empresas têm esse papel de transformação." Ele cita o exemplo da Índia, que está conseguindo crescer perto de 10% com o investimento na formação dos jovens nas áreas de tecnologia.
Sachs, que dirige o Earth Institute - organização ligada à Universidade de Columbia que presta consultoria e apóia projetos em sustentabilidade - também cobra uma posição mais firme do Brasil quanto às questões ambientais. Segundo ele, o País não pode simplesmente seguir o exemplo chinês, cuja economia cresce às custas de degradação ambiental. "O Brasil não pode deixar que devastem toda a Amazônia para plantar soja e vender à China", diz. "É preciso ter cuidado para que as forças de mercado não controlem tudo."
ESCOLA
A idéia de que cabe às corporações ajudar a diminuir o abismo entre ricos e pobres está tomando força entre os acadêmicos americanos. Além de Jeffrey Sachs, outro expoente dessa linha é Stuart Hart, da Universidade de Cornell, autor do livro Capitalismo na Encruzilhada.
A tese de Hart é que o sistema capitalista só sobreviverá se as empresas reformularem suas estratégias de negócios, de modo a incluir os mais pobres e sem trazer grandes impactos aos recursos naturais do planeta.