BRASÍLIA - O salário mensal de R$ 24,5 mil que os deputados e os senadores se autoconcederam é mais um sinal da consolidação da profissionalização da política -para o bem e para o mal. Uma pesquisa nos registros oficiais mostra que a profissão de maior incidência entre os vencedores das últimas eleições é a de político. Muitos nem exerciam mandato antes de concorrer em outubro passado, mas preencheram o formulário da Justiça espontaneamente se dizendo políticos.
É idílica a imagem do brasileiro abnegado que larga sua profissão de médico, advogado ou jornalista para dar quatro anos de sua vida na função de vereador ou deputado. Salvo as exceções para confirmar a regra, só profissionais entram. É preciso muito dinheiro, organização e capacidade associativa. A falta de pujança crônica da sociedade civil está ainda mais acentuada nestes tempos de lulismo.
Até as ONGs já estão se preparando para mudar de nome. Devem se transformar em OMNGs (organizações meio não-governamentais), dado o volume de dinheiro público que recebem.
Os políticos deitam e rolam nesse vazio de cidadania crítica. Profissionalizados, eles agora se preocupam em conferir uma aura de legalidade aos seus estilos de vida. Precisam ganhar salário alto para justificar os gastos. "A maior aflição dos que roubam aqui dentro é não ter como usar o dinheiro, pois sempre haverá quem aponte o dedo dizendo que é fruto de roubo", disse-me uma vez um senador. A frase é cada vez mais verdadeira.
A internet ontem foi o veículo dos protestos contra o aumento dos congressistas. Muitas mensagens indignadas. Mas não apareceu uma alma em frente ao Congresso para gritar contra o escárnio. A partir de janeiro, o assunto estará esquecido. O brasileiro, como se sabe, é um povo bom e cordial.
Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, dezembro 16, 2006
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