Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Clóvis Rossi - O fim do mundo




Folha de S. Paulo
21/12/2006

Escrevo antes da decisão do Congresso sobre o reajuste de salários dos parlamentares. Qualquer que seja, o espírito da coisa foi muito bem retratado em frase do deputado Givaldo Carimbão (PSB-ES), um dos que votaram a favor da obscenidade, na reunião da Mesa com os líderes: "Se tivermos de recuar dos R$ 24,5 mil para os R$ 16,5 mil, não vai ser o fim do mundo".
É o galope da cara-de-pau que assola 9 de cada 10 congressistas. Fim do mundo seria, de fato, conceder qualquer aumento. O certo seria cortar, em vez de aumentar, os ganhos dos parlamentares, dos quais o salário é apenas a pontinha de um baita iceberg.
Ajuda-memória, contida em texto aqui publicado faz apenas três meses, com base em minucioso levantamento do site "Congresso em Foco", especializado na atividade parlamentar: "Entre vencimentos pessoais, verba para manutenção do gabinete, auxílio-moradia, passagens aéreas, despesas com combustíveis, correios, telefone e publicações, um deputado custa, em média, R$ 99.467 por mês, o equivalente a 284 salários mínimos de R$ 350".
Toda a movimentação para cortar parte dos excessos (14º e 15º salários, verba para manutenção de gabinete) faz parte da cara-de-pau. Depois de aumentados os vencimentos, é facílimo repor toda a gordura, por mero ato da Mesa, aproveitando as tradicionais letargia e distração do público. Bem que o arcebispo de Brasília disse, na missa de ontem, na presença de Aldo Rebelo e Renan Calheiros, presidentes das duas Casas do Congresso, que estavam legislando em causa própria. Aí, sim, é o fim do mundo.
PS - Na lista de congressistas contra os obscenos 91%, faltou acrescentar todos os parlamentares do PSOL, já que seus líderes Chico Alencar e Heloísa Helena falaram em nome de todos.

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