Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 07, 2006

ELIANE CANTANHÊDE "Sejam fortes!"

BRASÍLIA - O maior acidente da aviação brasileira matou 154 pessoas, causou uma comoção nacional e explodiu a velha certeza de que o sistema de controle aéreo do país estava acima de qualquer suspeita. Além de expor a incrível desorganização do governo.
O sistema tem pelo menos dois defeitos graves: 1) uma "zona cega" em Mato Grosso, na qual o avião é formalmente controlado pelo Cindacta de Brasília, mas na realidade é "visto" pelo de Manaus; 2) os radares confundem os controladores ao ajustar automaticamente as altitudes dos aviões de acordo com o plano de vôo, não com o vôo real.
E os próprios controladores declaram-se poucos e ganhando mal -e estão totalmente fora de controle. Primeiro, a "operação-padrão". Agora, a suspeita de sabotagem. É apenas uma suspeita, mas convenhamos que não à toa num momento dramático como o atual.
Enquanto isso, ninguém se entende. A Defesa instiga os controladores, a Aeronáutica decreta prontidão, os comandantes do Cindacta e do DCEA caem. Chama a polícia! Lula? Esse, mais uma vez, não viu nada, não sabia de nada. Estava cuidando do PMDB. O resultado visível está nos atrasos dos vôo, nos aviões que ficam voando em círculos durante horas sem poder pousar, nas multidões que se acumulam em aeroportos.
Mas o resultado invisível é ainda pior: o descrédito total do sistema. Se você é americano, italiano, nigeriano ou marciano deve pensar: "Que caos! Voar o Brasil é quase suicídio". Se é brasileiro, brasileira e viaja de avião, deve estar morrendo de medo e pensando em alternativas para o final de ano. Trem? Não há. Ônibus? Olha a buraqueira! Carro? Troque o amortecedor.
Sugiro comprar cartões de Natal para a família, peru defumado, um espumante de bom preço e ficar em casa mesmo. E não esqueça do conselho do ministro Waldir Pires aos controladores: "Sejam fortes!".

elianec@uol.com.br

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