Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 03, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Re-re-reeleição



BRASÍLIA - Depois não digam que Hugo Chávez não avisou. A três dias de ser eleito mais uma vez para a Presidência da Venezuela, ele avisou que está caraminholando uma idéia: dar uma nova mexidinha na Constituição para acabar com os limites para a reeleição. Assim, o presidente pode ser reeleito sucessivas vezes, até que a morte o separe do Palácio de Miraflores.
Trata-se do direito à "reeleição indefinida", como disse Chávez, sem subterfúgios, numa entrevista em que falou três horas e meia, à la Fidel Castro -seu maior ídolo vivo e que, aliás, já está há quanto tempo mesmo no poder em Cuba?
A alternância de poder não é o forte na Cuba de Fidel nem na Venezuela de Chávez, onde eles não dão moleza à oposição nem asas a aspirantes de seus próprios grupos. Quem é o sucessor de Fidel? E o de Chávez? Nas próximas eleições, em 2013, ele completará 15 anos no poder. Pelo visto, quer mais e não prepara ninguém para a vaga.
Chávez aprendeu com Fidel e ensina seus pupilos Evo Morales, na Bolívia, e Rafael Correa, recém-eleito no Equador. Todos se dizem de "esquerda" e usam petróleo e gás como demonstração de força política e como real ameaça econômica. Chávez continua vendendo para os EUA, independentemente da retórica e do avanço belicista. Mas Morales deu um suadouro na Petrobras e na EBX, brasileiras, e Correa deve ir pelo mesmo caminho.
O desafio dos pupilos é conseguir, como Chávez, confinar a oposição em limites que lhes permitam agir, berrar, mexer na Constituição e ganhar eleições. Morales já enfrenta fortes problemas internos. Correa não perde por esperar.
Chávez e Correa vêm ao Brasil nesta semana e depois vão se encontrar com Lula e Morales na Bolívia. Façam o que fizerem, os três apóiam-se no Brasil e no aval de Lula. Eles são os "revolucionários" que põem fogo. Lula é o reformista que joga água na fogueira.

elianec@uol.com.br

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