Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 03, 2006

CLAUDIA ANTUNES Nós e todo mundo



SÃO PAULO - Disseram que o governo Lula torceu pela vitória do Partido Republicano de Bush na eleição legislativa de novembro, assim como teria torcido pela vitória do conservador Álvaro Noboa no Equador. Num caso, a preocupação seria com o protecionismo comercial dos democratas; no outro, com os investimentos da Petrobras nos campos equatorianos.
Mas aconteceu o contrário, e as conseqüências das duas eleições são um reforço e um desafio para o projeto que o governo afirma ser sua prioridade: a integração sul-americana. O presidente eleito do Equador disse que quer se aproximar do Mercosul. E, com os democratas ameaçando rever os tratados de livre comércio com Peru e Colômbia, diminui a possibilidade de Paraguai e Uruguai serem atraídos pela política de acordos bilaterais dos Estados Unidos.
Mas o interessante é que os dois movimentos -a vitória dos democratas e a de outro representante da esquerda nacionalista na América do Sul- têm uma lógica comum. Os democratas não são protecionistas só porque têm apoio dos sindicatos. Eles o são porque, nos EUA, houve um aumento da desigualdade nos últimos 20 anos. É uma conseqüência da desregulamentação da economia e da política tributária regressiva, conjugadas com o que os economistas chamam de "convergência salarial global", fruto da concorrência dos países mais pobres.
Liberais, como o colunista Thomas Friedman, do "New York Times", acreditam que os EUA só vão acelerar a ascensão asiática caso se refugiem no protecionismo -que os chineses também praticam, por meio do controle do câmbio. No Brasil, teme-se que o país fique isolado caso não faça acordos com os países ricos. A China, por outro lado, tem medo das conseqüências desestabilizadoras de uma desigualdade que lá, do mesmo modo, se acentua. Além das disputas comerciais, há mais coisas em comum entre nós e o mundo.

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