Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 15, 2006

ELIANE CANTANHÊDE Ainda bem que o Haiti existe

BRASÍLIA - Lula deveria reunir Dilma, Mantega e Paulo Bernardo, mais Henrique Meirelles (BC), e seguir o conselho do ministro Waldir Pires: rezar. Rezar para agradecer a existência do Haiti.
Só por causa desse pequeno, miserável e infeliz país o Brasil não ganhou o título de pior crescimento das Américas em 2005. O Haiti levou, o Brasil ficou com a nada honrosa medalha de prata e está na disputa novamente em 2006.
Lula acenou com 10 milhões de empregos na campanha de 2002, alardeou o "espetáculo do crescimento" e acenou com um índice de 5% em 2007 -que já está sendo revisto. Nada se cumpriu.
Aliás, antes de chegar a 2007, temos que fechar 2006, e está difícil. A expectativa original era de uns 4,5%. Depois, foi desmilingüindo, desmilingüindo e desmilingüiu. Já está abaixo de 3%.
O governo Lula pode, assim, acabar perdendo uma outra disputa além da que o Brasil trava com o Haiti: qual dos governos, o seu ou o de FHC, produziu o índice médio de crescimento mais pífio?
Por enquanto, está pau a pau, mas com uma vantagem para o tucano: ele pelo menos tinha desculpa, pois a média anual nos seus dois mandatos foi pressionada para baixo por cinco crises internacionais. Lula nem desculpa tem. Passou quatro anos sem uma só crise externa. O desempenho foi ruim porque foi.
Por que, hein?
Para 2007, só temos intenções, promessas, reuniões, acusações mútuas. Nada que possa criar um ânimo otimista, enquanto o Judiciário discute aumentos salariais para ele próprio, o Legislativo vota um teto salarial equivalente ao do Judiciário e vai-se cumprindo a previsão de Cristovam Buarque na campanha: vem aí um novo calote eleitoral. O país não cresce, as contas não fecham e o governo vai ter de cortar. Onde mesmo? Enfim, ainda bem que o Haiti existe. E não é aqui, por enquanto.

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