SÃO PAULO - Quiseram a história e o tempo que os dois maiores símbolos da Guerra Fria na América Latina, Augusto Pinochet e Fidel Castro, saíssem de cena juntos. Fidel, doente desde julho, implantou uma ditadura em nome de uma utopia igualitária; Pinochet comandou uma ditadura para suprimir essa ideologia, pois não representava uma contra-utopia liberal.
Defensores podem argumentar com conquistas dos dois regimes -embora o milagre econômico que o de Pinochet teria produzido pareça agora para lá de medíocre. Mas a marca duradoura que ambos deixaram se refere à conduta dos Estados Unidos. Pinochet teve o apoio da Casa Branca, que sabotou o governo de Allende. Fidel foi alvo de complôs e de um embargo.
Essa marca alimenta, ainda hoje, o antiamericanismo na América Latina. Ela é fundamental para o poder de atração de um Chávez ou de um Morales, e provoca espasmos de patriotismo quando o Brasil, por exemplo, obriga turistas americanos a tirar impressões digitais.
Há casos doentios, mas o antiamericanismo não se reduz a uma obsessão do "perfeito idiota latino-americano", como gostariam Álvaro Vargas Llosa e seus colegas que cunharam a expressão. Assim como esquerda e direita, abaixo do Equador, têm dificuldades de enxergar as malfeitorias de lavra própria, os americanos são generosos ao absurdo com a própria história.
Os EUA ainda vivem embalados pelo mito da benevolência de sua ação no mundo. Tanto que boa parte dos americanos apoiou a invasão do Iraque, e muitos acreditaram sinceramente que a democracia seria exportada pelas armas. A história oficial do século 20, define o professor Andrew Bacevich, da Universidade de Boston, "são os EUA se erguendo em defesa da liberdade e derrotando os terríveis nazistas e comunistas". É uma história de sucesso, mas a embriaguez da vitória não é boa conselheira, como mostram os tempos atuais.
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 15, 2006
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