SÃO PAULO - O que fazer? Se há algo em comum entre Bush e Lula é o fato de ambos rodopiarem em torno dessa pergunta. O primeiro, desde que foi derrotado nas eleições legislativas de novembro e passou a ser pressionado a encontrar uma saída para a Guerra do Iraque; o segundo, depois que prometeu, de novo, crescimento que ponha o Brasil no ritmo de outros "emergentes".
O provável é que ambos não tomem nenhuma medida inovadora, uma vez que o debate, nos dois países, ocorre dentro de limites que não rompem tabus doutrinários.
No caso americano, só os iludidos imaginam que haverá uma retirada total do Iraque. Deve haver redução das tropas a médio prazo e reforço dos assessores militares, numa "iraquização" do conflito. Os EUA podem ser expulsos um dia, mas, até lá, farão o possível para manter um pé nas bases militares que construíram no país.
O temor de uma carnificina ainda pior, muito alardeado, não é o fator de maior peso nesse cenário. Desde a crise do petróleo nos 1970 e a Revolução Iraniana, assegurar pela força, se necessário, o acesso direto às reservas do Golfo Pérsico está em todo manual que enumere os interesses vitais dos EUA. Com o Irã fortalecido, a Arábia Saudita histérica com os vizinhos xiitas e a China sedenta de combustíveis, não se cogita mudar essa norma.
Por aqui, Lula está enredado numa doutrina que o coloca, a olhos estrangeiros, como um dos melhores da classe entre os dirigentes sul-americanos. Hoje em dia é de bom tom dar algum alento aos pobres, mas sem heterodoxias econômicas.
Nesse marco estreito, a discussão sobre mudanças na economia fica à mercê de grupos de interesse. O que poderia surgir como consenso vira, na verdade, um acerto entre os que gritam mais alto. O presidente não parece disposto a modificar esse processo. Tende a optar por não fazer nada, deixando, como o colega Bush, que o tempo cuide do risco de o país ser atropelado por forças incontroláveis.
Entrevista:O Estado inteligente
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