Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 02, 2006

Bento XVI leva mensagem de conciliação à Turquia

Numa terra estranha

Na Turquia, o primeiro país
muçulmano que visita, Bento XVI
pede tolerância mútua ao Islã


Diogo Schelp

Patrick Hertzog/Reuters
O PAPA E O MUFTI
Bento XVI na Mesquita Azul, com o líder dos muçulmanos de Istambul: missão diplomática


Muitos temeram uma guerra na visita do papa à Turquia. O que se viu, na semana passada, foi bem diferente: um papa sorridente, disposto a tirar os sapatos na Mesquita Azul e a rezar virado para Meca, como fazem os muçulmanos. Nos três dias de visita, o pontífice estendeu várias pontes diplomáticas e os turcos ficaram encantados. Os papas costumam passar à história mais pelo que fazem do que pelo que dizem. Não é improvável que a viagem à Turquia tenha definido o papado de Bento XVI.

O cardeal Joseph Ratzinger, braço-direito de João Paulo II, opunha-se à entrada da Turquia na União Européia. Argumentava que a Europa não era um espaço geográfico, mas uma identidade cultural assentada sobre o pilar do cristianismo. Não havia lugar ali, no seu entender, para essa terra estranha surgida do desmonte do Império Otomano, oito décadas atrás. O Estado turco é rigorosamente laico, mas a população é quase toda muçulmana. O país tem um pé na Europa, mas o resto do corpo está na Ásia. Agora, com a responsabilidade diplomática e doutrinária de um papa, Ratzinger declarou-se favorável à entrada do país na União Européia. Há dois meses, na sua antiga cátedra na Alemanha, talvez transfigurado em professor, ele criticou a persistência na doutrina islâmica do direito de conquistar fiéis com a espada. Numa resposta exagerada, o mundo islâmico parecia prestes a realmente puxar da espada e declarar guerra religiosa. Em Istambul, de modo diferente, Bento XVI afirmou que cristãos e muçulmanos são todos filhos do mesmo deus. O papa também se encontrou com o patriarca ortodoxo – aliviando um cisma cristão que já dura 1.000 anos – e pediu ao Islã maior tolerância para as minorias cristãs. Em lugar do confronto temido entre duas civilizações, Bento XVI desarmou os espíritos com gestos eloqüentes.

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