Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 12, 2006

AUGUSTO NUNES O sumiço do comandante



A habilidade em lidar com o mau tempo transformou Luiz Inácio Lula da Silva no Grande Timoneiro do PT. O apreço por tempestades desapareceu com a promoção a comandante da nau do Planalto. O clarão do primeiro relâmpago o emudece. O estrondo do primeiro raio o impele a recolher-se à cabine do capitão e ali ficar enfurnado até que a tormenta amaine. Só então se ouvirá de novo o falante compulsivo.

Encerrado o sumiço, dirá que não foi informado a tempo da iminência do temporal. Que não o alertaram para o conteúdo perturbador das previsões meteorológicas. Que não ouviu a trovoada. Que a rota foi traçada por tripulantes aloprados. Que é ocupado demais para prevenir trapalhadas do imediato, do ordenança e do grumete.

Em casos especialmente complicados, trata de atirar às ondas algum velho companheiro, e viagem que segue. Os insatisfeitos que se queixem ao capelão. O capitão sempre reassume o leme com a expressão beatífica de quem não terá contas a ajustar no dia do Juízo Final.

Adotado na chuvarada do mensalão, o truque funcionou razoavelmente. Reprisado à exaustão nestes quatro anos, livrou Lula de exposições constrangedoras e permitiu-lhe prolongar até 2010 a permanência no posto. É compreensível que o comandante tenha recorrido à mesma tática para contornar o apagão aéreo, cujas turbulências afligem há quase 50 dias multidões de brasileiros.

Nesse período, pediu votos para o amigo Hugo Chávez, fez cafunés no meninão Evo Morales, descansou numa praia, jogou conversa fora com o terrorista em recesso Muammar al Khaddafi, passou pitos no PT, adulou o PMDB, brincou de presidente eleito entretido na montagem do novo ministério. Sobre a conflagração nas áreas de embarque, nenhuma palavra. Mas o chefe só pensa nisso, juram assessores. Em encontros reservados com ministros de estimação, critica os ausentes, exige explicações sobre a imensa confusão, cobra respostas claras e providências urgentes, estabelece prazos improrrogáveis. Faz e acontece. De vez em quando, sublinha manifestações de impaciência com socos na mesa. O homem está indignado, informam jornalistas federais.

Indignados estão centenas de milhares de passageiros insultados pelo triunfo da incompetência. Lula deveria estar é envergonhado com o que fez e faz. "Quem decide os rumos da política econômica sou eu", avisou quando o ministro Tarso Genro anunciou "o fim da era Palocci". Foi ele, portanto, quem resolveu sacrificar investimentos essenciais no altar do superávit primário.

Desta vez, só colunistas de aluguel ousam atribuir culpas à herança maldita produzida por FH, o Grande Satã. Lula atolou no próprio legado. Desde 2003, o governo reduziu dramaticamente despesas com estradas, portos, rodovias, ferrovias, hidrovias. Há pelo menos três anos, autoridades minimamente sensatas advertem a cúpula do governo para a erosão do sistema de controle de vôos. Os donos do dinheiro resolveram desperdiçá-lo em obras cosméticas e bijuterias arquitetônicas. Deu no que deu.

Lula já percebeu que o truque agora não funcionou. Terá de explicar-se ao país. O problema é que não sabe o que dizer.

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