"Maluf, sendo um homem rico, poderia
fazer uma doação financeira ao Incor, não?"
Sem barulho nem alarde, deu-se na semana passada um dos melhores exemplos da generosidade de uma parcela dos ricos do Brasil. Aconteceu o seguinte: o Instituto do Coração, o Incor, atravessa uma crise financeira dramática, e o ex-prefeito Paulo Maluf, que acaba de eleger-se deputado federal, resolveu escrever um artigo sobre o assunto. No artigo, publicado no jornal Folha de S.Paulo, Maluf diz que o Incor é "um pedaço do Brasil que deu certo", que "nada deve aos maiores hospitais dos Estados Unidos e da Europa", e afirma que o instituto merece ser socorrido – com dinheiro público, é claro. Maluf escreve que a "única solução" é os governos federal e estadual de São Paulo assumirem a dívida que sufoca o Incor.
No dia seguinte, o jornal publicou uma carta do professor Tomás de Aquino Guimarães, da Universidade de Brasília, comentando o artigo de Maluf. Nela o professor sugeria que, em vez de pedir dinheiro público, Maluf promovesse uma "campanha de arrecadação de doações financeiras" junto a pessoas que, como o próprio Maluf, "fazem parte da elite econômica e política nacional". Era uma boa sugestão. Afinal, Maluf, sendo um homem rico, poderia ele mesmo fazer uma doação financeira ao Incor, não? Na declaração de bens que entregou à Justiça Eleitoral, Maluf informa que seu patrimônio pessoal é de 38,9 milhões de reais. Mesmo que não se considere a fortuna que é suspeito de esconder em contas secretas no exterior, estimada em 200 milhões de dólares, mesmo sem contar essa soma fabulosa, mesmo se admitindo que seu patrimônio não passe mesmo de 38,9 milhões de reais, mesmo assim Maluf é um homem muito rico.
Se resolvesse fazer uma doaçãozinha ao Incor, Maluf estaria se alinhando a uma prática muito difundida em alguns países, sobretudo nos Estados Unidos, cuja legislação favorece amplamente a filantropia. Quem não se lembra do espanto generalizado quando, em junho passado, o bilionário americano Warren Buffett anunciou que doaria 37 bilhões de dólares para fazer filantropia? Aos 75 anos, ao doar 85% de sua fortuna pessoal, Buffett tornou-se o maior filantropo de todos os tempos. Mas não era nada disso, nada dessa escala monumental, que se estava sugerindo a Paulo Maluf. Não era doar 85% nem mesmo de seu patrimônio declarado. Era apenas uma doaçãozinha financeira. Só para ajudar, mostrar a generosidade dos endinheirados no Brasil. Só isso.
O bacana da história é que Paulo Maluf respondeu à carta do professor de Brasília. Em sua resposta, também publicada pelo jornal, Maluf começa dizendo que a sugestão do professor é "oportuna" – e qualquer um que a lesse ficaria esperando, depois dessa introdução elogiosa, que Maluf iria anunciar uma doação ou o início de uma campanha de arrecadação. Que nada. Maluf disse que achava "oportuna" a sugestão de doar dinheiro justamente por entender que os governos federal e estadual devem fazê-lo... Sobre ele próprio colocar a mão no bolso e dividir uma parcela ínfima de sua fortuna com o "pedaço do Brasil que deu certo", nem um pio. Por quê? Maluf responde: "Se eu doasse 50.000 reais, isso ia resolver alguma coisa? Ia pagar duas horas de juros dos empréstimos...". A escolha é sua, leitor: Maluf não entendeu a sugestão ou, além de podre de rico, é cínico?
Entrevista:O Estado inteligente
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