JB | Coisas da Política |
Os principais jornais da Argentina, do Chile e do Uruguai registraram com merecido destaque, na semana passada, frases do presidente Lula sobre aqueles países ou seus governantes. Todas as ousadias foram pinçadas do livro Viagens com o presidente - Dois repórteres no encalço de Lula do Planalto ao exterior, de Eduardo Scolese (Folha de S.Paulo) e Leonêncio Nossa (O Estado de S. Paulo).
Nas bancas de Buenos Aires, La Nación e El Clarín ruborizaram-se com comentários feitos pelo Grande Pastor durante uma festa na embaixada brasileira em Tóquio. Um deles: "A verdade é que nós temos que ter muito saco para agüentar a Argentina". Outro: "Tem horas, meus caros, que tenho vontade de mandar o Kirchner para a puta que pariu".
Em Montevidéu, El Observador traduziu com espanto a opinião do vizinho brasileiro sobre o ex-presidente Jorge Battle: "Aquele lá não é uruguaio porra nenhuma. Aquele lá foi criado nos Estados Unidos. É filhote dos americanos". Piedosamente, o jornal ressalva que "as palavras lhe brotaram da boca depois de alguns uísques".
Não se sabe se o grande improvisador estava sóbrio ao fornecer material para o que acaba de virar manchete no jornal El Mercurio , editado em Santiago. "O Chile é uma merda, uma piada", decretou o presidente brasileiro. "Os chilenos fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se foda por aqui. Eles estão cagando para nós".
(Perdão pelos termos aqui reproduzidos, leitores. Mas é assim que Lula costuma expressar-se mesmo em conversas testemunhadas por quem não lhe deve vassalagem. Ou, em momentos de especial impaciência, diante de quem estiver por perto). Numa visita ao interior da Bahia, decidiu que um assessor não se movia com a devida presteza em busca da toalha para enxugar-lhe o suor.
"Olha o bundão", humilhou Lula. "Lá vai o bundão pegar a minha toalha". Noviços em comitivas presidenciais ficam enrubescidos com o estilo. Áulicos mais experientes assimilaram de tal forma o vocabulário escatológico que deixaram de ouvi-lo.
É o caso de Luiz Dulci, chefe da Secretaria-Geral da Presidência. O que está no livro não aconteceu, revogou o ministro mineiro. "O presidente Lula jamais xingou presidente nenhum", fantasiou o pressuroso Dulci. "A relação entre os presidentes da América do Sul e da América Latina nunca foi tão boa". Pode ter piorado um pouco com a publicação do livro.
Lula tinha 27 anos em 1972, quando trocou o batente de torneiro mecânico da Villares, no ABC paulista, pelo animado cotidiano de dirigente sindical. Aos 30, virou presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo - e as mãos se livraram para sempre da possibilidade do calo. Aos 35, tornou-se presidente do Partido dos Trabalhadores e disse adeus ao trabalho regular. Aposentou-se formalmente em 1988, aos 42 anos, com direito a proventos mensais que no ano passado somavam R$ 8.862,57. Fora os adjutórios do partido. Fora o salário de presidente.
Há 26 anos, Lula só sua em comício. Sobrou-lhe tempo para estudar. Como o horror a leituras prevaleceu, aperfeiçoou-se em agredir o português, os conhecimentos gerais e a lógica - sempre com a auto-suficiência arrogante dos analfabetos funcionais que subiram na vida. "Não preciso falar que nem doutor", gaba-se o presidente. "O Brasil me entende".
As histórias do livro sugerem que Lula anda confuso. Acha que fala a linguagem do povo. Fala o dialeto dos cortiços. E se vai rendendo ao manual de etiqueta dos boçais.