VEJA
Pensava-se que havia quatro tipos de pele:
normal, seca, oleosa e mista. Uma pesquisa
científica mostra que, na verdade, são
dezesseis. A nova classificação ajuda
a escolher os produtos certos para
manter a aparência jovem e saudável
Gabriela Carelli
Brandxpictures |
A classificação da pele em quatro tipos, normal, seca, oleosa e mista, foi desenvolvida por Helena Rubinstein, a inventora da indústria cosmética, no início do século XX. Desde então, essa divisão orienta as mulheres – e, de uns tempos para cá, muitos homens – na escolha de cremes e tratamentos para melhorar a aparência do rosto e evitar os sinais da idade. Agora, essa classificação foi ampliada. Depois de estudar 1.400 pacientes durante oito anos, a médica americana Leslie Baumann, chefe do Centro de Dermatologia Cosmética da Universidade de Miami, catalogou a pele humana em nada menos que dezesseis categorias. O resultado está no livro The Skin Type Solution (A Explicação para os Tipos de Pele). Lançada em fevereiro nos Estados Unidos, a obra tornou-se um best-seller e arrancou elogios da comunidade médica. "Trata-se de um avanço inestimável. Não existe classificação mais detalhada e atualizada na dermatologia", disse a VEJA o médico David Leffell, da Escola de Medicina de Yale. Os méritos do trabalho de Baumann não se limitam à sua contribuição científica – estendem-se também à aplicação prática de suas descobertas. A médica ajuda os leigos a descobrir qual o seu tipo de pele, que produtos usar, o que evitar e quais os tratamentos realmente eficazes em cada caso.
Greg Greer/divulgação |
A dermatologista Leslie Baumann: oito anos de pesquisa com 1 400 pacientes resultaram num livro que virou best-seller. "Para não jogar dinheiro fora com cosméticos, é preciso conhecer o próprio tipo de pele", ela diz |
Bem diferente da classificação unidimensional de Helena Rubinstein, o sistema criado por Leslie leva em conta quatro características da pele: hidratação, sensibilidade, pigmentação e tendência a enrugar. A hidratação verifica se a pele é seca ou oleosa. O grau de sensibilidade indica se a pessoa tem a pele resistente ou sensível – no primeiro caso, uma barreira celular impede que produtos penetrem em suas camadas mais profundas. A pigmentação determina se a pessoa produz ou não grande quantidade de melanina, o pigmento que protege as células da pele dos efeitos nocivos da radiação solar. Quem fabrica pouca melanina é não pigmentado e quem fabrica muita, pigmentado. Por último, avalia-se se a pele é firme, menos propensa a rugas, ou se tende a enrugar com os anos. Um teste rápido preparado especialmente para VEJA por Leslie Baumann permite ao leitor identificar o próprio tipo de pele (veja o teste). O teste mais elaborado, com 64 perguntas, que consta do livro, está disponível em VEJA on-line. As perguntas investigam desde características genéticas até o estilo de vida de cada pessoa.
A nova classificação elaborada por Leslie Baumann muda muita coisa no cotidiano de quem se preocupa com a saúde e a aparência da pele. Pessoas com pele sensível, por exemplo, são muito sujeitas a alergias e irritações – a maioria dos cremes antiidade disponíveis no mercado contém substâncias que podem danificar a epiderme em vez de tratá-la. Muitas dessas substâncias são festejadas por dermatologistas e consumidores atentos às novidades. Estão presentes na maioria dos produtos cuja venda não exige prescrição médica. Quem nunca ouviu falar do DMAE, o creme "efeito Cinderela", que repuxa a pele no momento em que é aplicado e transformou seu inventor, o médico Nicholas Perricone, numa celebridade? Pois seu princípio ativo, o ácido dimetilaminoetanol, pode causar estragos em quem tem a pele sensível. A vitamina C, outra vedete da dermatologia, também é desaconselhada para os sensíveis, mesmo para aqueles com propensão às rugas.
A pele sensível, que arde e inflama ao entrar em contato com substâncias fortes demais, funciona como um alerta do organismo. O seu oposto, a pele resistente, é mais difícil de tratar. Como tem uma barreira sólida contra os agentes externos, tolera bem qualquer produto. A ironia é que pouquíssimos cremes ou loções são concentrados o suficiente para penetrar nesse tipo de pele e produzir o efeito desejado, seja hidratar, seja atenuar rugas. A saída é usar produtos manipulados. Ao contrário do que muita gente pensa, a pigmentação independe da cor da pele. Negros e morenos são muito pigmentados, pois seus corpos produzem grande quantidade de melanina. Mas quem apresenta pele clara com sardas e manchas também tem pigmentação elevada. Pessoas claras mas com tendência a adquirir marcas onde antes houve incidência de acne são pigmentadas sem saber. Seja qual for o tom da pele, os pigmentados não devem usar certos produtos, como os que contêm soja na formulação. Substâncias presentes na soja agem como o estrógeno, hormônio que provoca manchas. Só os produtos que contêm soja com estrógeno removido podem ser usados por quem tem alta pigmentação.
Uma das pacientes de Leslie Baumann, citada no livro, pagou o equivalente a 200 reais por um creme para atenuar rugas de uma marca famosa sem saber nada sobre a contra-indicação da soja. Além de não se livrar dos pés-de-galinha, ganhou imensas marcas marrons nas bochechas. Os esfoliantes, encontrados em qualquer farmácia e usados por nove entre dez mulheres, também mancham alguns tipos de pele pigmentada. Os exemplos não param por aí. Procedimentos agressivos, mas muito populares atualmente, como peelings químicos, laser ou preenchimentos não servem para qualquer tipo de pele.
"Não discuto a eficiência dos ingredientes. A questão é que eles não funcionam para determinadas pessoas e são excelentes para outras", diz Leslie Baumann. "Para não jogar dinheiro fora, é preciso conhecer mais a fundo o próprio tipo de pele", ela completa. Pesquisas mostram que as americanas gastam em média 300 dólares cada vez que entram numa loja para comprar produtos para a pele. No Brasil, os números também são superlativos. Os brasileiros gastam 500 milhões de dólares por ano com cremes contra o envelhecimento – na maioria das vezes, sem saber se o produto cumprirá sua função.
Há tempos os melhores dermatologistas não se baseiam apenas na antiga classificação dos tipos de pele. Nos consultórios, os médicos questionam os pacientes sobre suas características genéticas e levam em conta hábitos como tomar muito sol e fumar antes de indicar os produtos mais adequados a cada caso. "O problema é que tudo era feito sem uma normatização consistente", diz a médica Érica Monteiro, da Universidade Federal de São Paulo. "O modelo de Baumann foi o primeiro a reunir os avanços tecnológicos e cosméticos numa classificação coerente, o que pode auxiliar muito os médicos na indicação dos tratamentos", conclui Érica. Há outros dois sistemas de classificação de pele consagrados na dermatologia. Um deles, criado pelo médico americano Thomas Fitzpatrick, antigo diretor de dermatologia da Universidade Harvard, avalia a quantidade de melanina de cada pessoa e o risco de doenças por exposição ao sol. O outro foi elaborado pelo médico, também americano, Richard Glogau, e mede o nível de envelhecimento causado pela radiação solar. "O sistema de Baumann é pioneiro na classificação e avaliação de peles saudáveis", diz David Leffell, de Yale.
Os avanços na dermatologia correm junto com o desenvolvimento da indústria cosmética. Até os anos 70, os produtos para a pele restringiam-se a cremes feitos de glicerina e outras substâncias gordurosas. A partir de então, surgiram técnicas que permitiam detectar as reações da pele à aplicação de cosméticos. A quantidade de água no estrato córneo, a camada mais superficial da pele, foi o primeiro alvo desses estudos, que comprovaram a importância de manter a hidratação cutânea. A criação de produtos capazes de disfarçar as marcas do tempo e diminuir o ritmo do processo de envelhecimento foi intensificada nas décadas de 80 e 90. A descoberta mais revolucionária foi o ácido retinóico, um derivado da vitamina A encontrado até hoje nos principais compostos antiidade. O ácido retinóico ou o retinol (sua versão mais branda) estimulam a produção de colágeno, fibra que dá sustentação à pele. O ácido glicólico, extraído da cana-de-açúcar, veio em seguida, para cumprir o mesmo objetivo. Hoje, a indústria cosmética aposta em uma gama infindável de produtos. Com as descobertas de Leslie Baumann, torna-se mais fácil se guiar por esse emaranhado de nomes e substâncias.
Os dezesseis tipos de pele
Nas fotos, alguns exemplos de quem
tem essas características
1) OLEOSA, SENSÍVEL, NÃO PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Stuart Ramson/AP |
Robert Redford |
Características
• Queima em lugar de bronzear, avermelhada com poros abertos e rugas precoces
O que evitar
• Produtos à base de álcool, cremes antiidade e vitamina C
O que usar
• Séruns com antioxidantes para hidratação
• Produtos com antiinflamatórios, como camomila e azuleno, para acne e vermelhidão
• Cremes com corticóides para dermatites
2) OLEOSA, SENSÍVEL, NÃO PIGMENTADA E FIRME
Características
• Ruboriza fácil, veias aparentes no rosto, manchas vermelhas que descascam, sobretudo em torno do nariz, rugas só depois dos 40 anos
O que evitar
• Cremes antiidade ou à base de ácidos de frutas e DMAE
O que usar
• Os produtos antiinflamatórios, com camomila ou aloe vera, e protetor solar
3) OLEOSA, SENSÍVEL, PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Scott Wintrow/Getty Images |
Harvey Keitel |
Características
• Bronzeia fácil, depois surgem manchas marrons ou esbranquiçadas, muita acne e dermatites. Primeiras rugas por volta dos 20 anos
O que evitar
• Produtos como DMAE, ácido lipóico e ácido hialurônico, usados nos tratamentos antiidade, e filtro solar com benzofenona, produto bem comum
O que usar
• Contra rugas, cremes com ácido salicílico ou retinol
• Filtros solares feitos com óxido de zinco, que não irritam a pele e evitam a oleosidade
4) OLEOSA, SENSÍVEL, PIGMENTADA E FIRME
Características
• Alta incidência de acne, geralmente acompanhada de inflamações. Propensão a alergias e, nas pessoas claras, sardas e manchas de sol
O que evitar
• Esfoliantes e cremes antiidade
O que usar
• Produtos com camomila, aloe vera e ácido salicílico, que aliviam as inflamações
• Cremes com retinol para acne e rugas
• Loções com ácido kójico para manchas de sol
5) OLEOSA, RESISTENTE, PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Características
• Aparência lustrosa, com poros largos, acne rara
O que evitar
• A maioria dos cremes e loções não consegue penetrar na pele. Para hidratar a pele e prevenir rugas, a melhor opção são produtos manipulados, sob indicação médica
O que usar
• Os esfoliantes para reduzir oleosidade
• Cremes com coenzima Q10, ginseng, chá verde e vitamina C para rugas
• Retinol, DMAE e ácido glicólico em alta concentração para amenizar rugas
6) OLEOSA, RESISTENTE, PIGMENTADA E FIRME
Fotos Dave M. Benett / Patrick Riviere/Getty Images |
Naomi Campbell |
Características
• A face brilha, principalmente em fotografias, poucas rugas e acne. Mais comum em negros. Em pele clara, maior incidência de sardas e manchas
O que evitar
• Na pele clara, produtos com soja, que provocam o aumento das manchas. Na pele escura, tratamentos a laser
O que usar
• Vitamina C, retinol, ácido kójico e ácido glicólico são eficazes para remover manchas e prevenir rugas
7) OLEOSA, RESISTENTE, NÃO PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Características
• Brilho moderado na face, pouca acne, rugas precoces
O que evitar
• Hidratantes durante o dia são desnecessários.
O que usar
• Produtos com antioxidantes para prevenir o envelhecimento
• O retinol controla a oleosidade e previne rugas
• Tratamentos como laser, dermo-abrasão, peelings profundos e Botox
8) OLEOSA, RESISTENTE, NÃO PIGMENTADA E FIRME
Catherine Deneuve |
Características
• Manchas, vermelhidão ou ressecamento são raros. Dificilmente pega um bronzeado
O que evitar
• Hidratantes gordurosos. Se necessário, usar aqueles feitos à base de gel ou loções sem óleo
O que usar
• Para limpeza, as loções à base de ácido salicílico
• Esfoliantes diariamente
9) SECA, SENSÍVEL, PIGMENTADA E PROPENSA A RUGAS
Características
• Uma das peles mais problemáticas. Muito fina e seca, apresenta irritações, vermelhidão e descama com freqüência. Arranhões e cortes resultam em cicatrizes
O que evitar
• Adstringentes, que irritam a pele, e esfoliantes, que a tornam ainda mais sensível
O que usar
• Águas termais em spray antes de aplicar cremes, para aumentar a hidratação
• Hidratante pela manhã, à tarde e à noite
• Botox, preenchimentos e peelings químicos
10) SECA, SENSÍVEL, PIGMENTADA E FIRME
Características
• Sujeita a eczemas, dermatites e descamações. Manchas ásperas e grossas no rosto e no pescoço, ressecamento nas mãos e pálpebras escuras
O que evitar
• Adstringentes e esfoliantes, cosméticos com soja que contenham estrógeno
O que usar
• Hidratantes com filtro solar e ingredientes simples como óleo de oliva ou manteiga de cacau
• Antiinflamatórios para eczemas e dermatites, sob orientação médica
11) SECA, SENSÍVEL, NÃO PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Jennifer Graylock/AP |
Paris Hilton |
Características
• Ressecada, avermelhada, áspera e sem brilho. Acne moderada, vasos aparentes na face e rugas prococes
O que evitar
• Vitamina C, retinol e cremes antiidade. Para quem tem acne, produtos com manteiga de cacau e óleo de coco
O que usar
• Hidratantes pelo menos três vezes ao dia
• Produtos com coenzima Q10, chá verde, extrato de grãos de uva e cafeína para prevenir rugas
• Antiinflamatórios, sob prescrição médica
12) SECA, SENSÍVEL, NÃO PIGMENTADA E FIRME
Características
• Seca, com descamações, vermelhidão e coceiras. Muito alérgica e com espinhas ocasionais
O que evitar
• Produtos com álcool, adstringentes e sabonetes agressivos, que tiram a gordura natural da pele. Produtos com retinol
O que usar
• Hidratantes fortes, de preferência com filtro solar
13) SECA, RESISTENTE, PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Christian Charisius/Reuters |
George Clooney |
Características
• Sem acne, alergias, irritações ou rugas até os 40 anos. Fácil de bronzear
O que evitar
• Produtos com álcool, sabonetes e loções adstringentes
O que usar
• Para prevenir ou atenuar rugas, retinol ou ácido retinóico receitado por dermatologistas
• Cremes para o rosto e a área dos olhos com antioxidantes em doses altas
• Agentes clareadores, como vitamina C, que aumenta a produção de colágeno e ajuda a diminuir manchas
• Esfoliantes quatro vezes por semana
14) SECA, RESISTENTE, PIGMENTADA E FIRME
Scott Wintrow/Getty Images |
Lucy Liu |
Características
• Seca, com descamações no rosto e no pescoço. Áspera nos joelhos e cotovelos. Sardas ou manchas de sol
O que evitar
• Peelings químicos e tratamentos a laser, que acentuam as manchas escuras. Produtos com soja e estrógeno
O que usar
• Hidratantes com filtro solar, para evitar manchas e sardas
• Produtos com retinol e vitamina K para hidratação
15) SECA, RESISTENTE, NÃO PIGMENTADA
E PROPENSA A RUGAS
Características
• Pele bem clara, típica do norte da Europa, delicada e sem sardas ou manchas
O que evitar
• Sabonetes e xampus com detergentes, produtos com álcool e adstringentes
O que usar
• Até os 30 anos, a hidratação com produtos ricos em antioxidantes como vitamina C e E, chá verde e coenzima Q10. A partir dessa idade, produtos à base de retinol, com prescrição médica
• Para prevenir rugas, cremes com ácido hialurônico, colágeno e elastina
16) SECA, RESISTENTE, NÃO PIGMENTADA E FIRME
Características
• Pele típica de loiros ou morenos claros. Não bronzeia
O que evitar
• Produtos à base de álcool e adstringentes
O que usar
• Hidratantes tradicionais, à base de glicerina e água de rosas, são baratos e eficientes para esse tipo de pele