Folha de S. Paulo
13/7/2006
Há alguns meses, um rapazinho de 14 anos estava andando de skate com
primos e amigos num subúrbio do Rio de Janeiro, de tarde, dia claro.
A polícia chegou, com as sirenes ligadas, os soldados armados, aquele
pandemônio. Apavorados, os meninos correram. Um soldado não teve
dúvida: mirou, atirou e matou pelas costas, com um único tiro
certeiro, o rapazinho.
Achou que "era bandido". Vizinhos viram, e pais, tios, primos,
amigos, todos sabem quem eram os soldados, qual deles atirou, como
atirou. Mas ninguém abriu a boca. Nem para a Justiça, nem mesmo para
a imprensa -como insisti, indiretamente-, muito menos para a própria
polícia.
Todos ficaram surdos, cegos e mudos, engolindo as lágrimas. O pânico
foi maior do que a vontade de punir os culpados. Ou, em palavras bem
diretas, contabilizaram que mais valia perder um filho/sobrinho/amigo
calados do que denunciar e perder os outros.
Temeram que os policiais (ou bandidos?) voltassem e "concluíssem o
serviço", matando o resto da família. É pior, mais assombroso, do que
a "Escolha de Sofia". E aqui, nas nossas barbas.
Agora, essa nova onda de atentados em São Paulo, comandados pelo PCC,
com a organização, a liderança e a eficácia que o poder público não
tem -nem em São Paulo, nem em Brasília. Os criminosos assumiram o
controle da situação. Podem tudo. O Estado se sacode.
A conclusão é que os maus policiais matam inocentes, enquanto os
bandidos matam os -aparentemente- bons policiais e seus filhos. Foi-
se o tempo (bons tempos) dos "bang-bangs" em que os mocinhos sempre
venciam no final. No Brasil de hoje, os bandidos matam, os mocinhos
morrem. E até na "novela das 8" a vilã assassina foge, lépida, feliz,
rindo da nossa cara. Se eles riem, só nos resta chorar.