13/7/2006
Não se pode pretender que os cada vez mais freqüentes e ousados
ataques de organizações criminosas à sociedade e às autoridades
constituídas não tenham impacto econômico. Pode não ser imediato, mas
têm.
Ontem, a polícia paulista registrou mais 48 ações de comandos do PCC
em São Paulo, com um balanço provisório de 7 mortes. Desta vez, entre
os alvos da bandidagem estiveram residências de policiais, agências
bancárias, supermercados, revendedoras de veículos e 20 ônibus que
foram queimados.
Trata-se de mais uma escalada na afronta às instituições, que mostra
três fatos graves: (1) que o poder constituído vai sendo duramente
encurralado por um poder paralelo, cada vez mais orquestrado; (2) que
as autoridades, por tanto tempo excessivamente complacentes, mostram-
se agora atarantadas, acusam-se mutuamente e não têm resposta
adequada para o crescimento da delinqüência organizada; e (3) que, na
medida em que o uso da força não é mais monopólio do Estado, a
probabilidade de deterioração da coesão social é cada vez mais alta.
O avanço dos criminosos no processo de desmonte do poder público e na
intimidação da sociedade é espantoso. Não se limitam a atacar
delegacias, quartéis e fóruns e a promover rebeliões nos presídios,
como os 80 casos simultâneos no Estado registrados em maio.
As facções criminosas estão cooptando e forçando advogados a
trabalharem para elas em novas frentes, conforme já concluiu o
presidente da CPI do Tráfico de Armas, o deputado federal Moroni
Torgan (PFL-CE). Dois advogados foram indiciados em Brasília por
subornarem funcionário público a entregar segredos obtidos por meio
de transcrição de depoimentos na Câmara feitos pelos delegados da
Polícia Civil de São Paulo, Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz
Fontes. Terça-feira, a advogada Adriana Tellini Pedro admitiu que
entregou clientes seus a criminosos para serem assaltados.
Uma das explicações da Polícia para o número surpreendente de
telefones celulares que as autoridades não conseguem controlar,
usados para coordenação do jogo do crime de dentro das prisões, é a
de que eles chegam ao seu destino por meio dos seus advogados.
Já são quase 50 os policiais e agentes penitenciários assassinados, o
que mostra as proporções da chantagem sobre o Executivo. Nas
rebeliões de maio, as autoridades paulistas não conseguiram defesa
convincente para as acusações de que fizeram acordo com os bandidos.
O Poder Judiciário também está sendo chantageado. Há três anos, foi
assassinado o juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antonio Machado
Dias. O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil
(Ajufe), Walter Nunes, acaba de reinvindicar a criação de rede de
proteção aos juízes que atuam contra o crime organizado: "Para um
juiz é muito mais perigoso decidir a transferência (do criminoso) do
que a própria condenação. O PCC, por exemplo, já avisou que a paz só
voltará aos presídios quando houver garantia de que os líderes não
serão transferidos para o presídio de Catanduvas, no Paraná", disse
Nunes.
A qualidade do Congresso já é o que sabemos até mesmo do próprio
Lula, que nele contou pelo menos "trezentos picaretas". Se o
Executivo, cada vez mais leniente, se agacha dessa forma diante da
bandidagem e se o Judiciário se sente cada vez mais encurralado, que
confiança a sociedade pode ter em suas autoridades e instituições?
É ingenuidade imaginar que os empresários são tão gananciosos a ponto
de não olhar para questões de segurança pública quando decidem onde
alocar seus investimentos. Na China e na Índia, por exemplo, para
falar dos dois maiores pólos de atração de capital, não há problemas
desse tipo.
Infelizmente, a sociedade só lamenta e reage quando uma fábrica é
desativada. Ela não fica sabendo quantos projetos deixam de ser
implantados porque os conselhos de acionistas de grandes corporações
no exterior decidiram transferir os investimentos para Taiwan, porque
leram no Financial Times notícias sobre omissões das autoridades
brasileiras diante das chantagens do PCC.
Do ponto de vista estritamente econômico, é preciso perguntar até que
ponto esse brutal enfraquecimento da segurança pública não vai
interromper ou adiar negócios e fechar postos de trabalho.