Folha de S. Paulo
7/7/2006
Em 1966, aos 20 anos, no velho estádio de Liverpool, vi o Brasil de
Pelé e Garrincha ser eliminado da Copa por Portugal. Não deu nem para
chorar, era esperado: vínhamos de uma derrota acachapante para a
Hungria, só um milagre nos salvaria. Os bicampeões de 62 tinham
envelhecido, as táticas estavam superadas, o time jamais conseguiu
jogar bem.
Em 1982, chorei na tribuna de imprensa do Sarriá, em Barcelona,
assistindo perplexo à derrota do invencível time dos nossos sonhos
para a Itália de Paolo Rossi. Chorei de dor e de frustração, pelo
sentimento de perda irreparável e de injustiça poética, de compaixão
pelos jogadores-artistas que nos deram tantas alegrias.
Em 1986, em Guadalajara, ao lado de João Ubaldo Ribeiro, quase chorei
de raiva quando Julio César perdeu o pênalti e fomos eliminados pela
França de Platini, no único jogo em que a seleção jogou bem e nos deu
orgulho, alegria e esperança. Jogamos muito, dominamos, Zico perdeu
um pênalti, perdemos gols, mas aplaudi calorosamente a saída dos
bravos perdedores.
Em 1990, em Turim, tive o desprazer de testemunhar a derrota de um
time horrível, mas justamente na primeira e única vez em que
conseguiu jogar quase bem. O time era fraco, mas atacou, ameaçou,
lutou o tempo inteiro e tomou um gol no final. Deu pena.
Agora, deu vergonha e raiva. Os egos não couberam em uma equipe, a
estratégia e o comando falharam, as desculpas são esfarrapadas como
as dos mensaleiros. "The best" me bestificaram.
Ou, parafraseando a genial reflexão de Lula sobre a morte, se a
fabulosa seleção brasileira é eliminada de uma Copa, por seus
próprios erros, você é eliminado com prazer, porque sabe que nosso
time é o melhor -é como morrer nas mãos do doutor Adib Jatene.