Sou vítima de escritores-fantasmas que se escondem na internet. Já
reclamei disso, mas não adianta, os falsários continuam forjando
minhas pobres moedas. A “rede” tem artigo com meu nome falando das
mulheres de bundinha dura, tem uma defesa sensual da celulite, tem um
famoso artigo meio veado sobre a beleza dos gaúchos, saudado com
viril alegria por homenzarrões que me agarram na rua: “Ché, tua
escritura estava macanuda, trilegal!” Eu nego aos bigodudos ter
escrito aquele ditirambo farroupilha, mas falo num tom vago, para não
ser esculachado: “Tu não escreveste? Então tu não amas nossas
‘prendas’ lindas, e negas ter escrito que a gente já nasce montado
num bagual? E que por baixo do poncho também bate um coração? Tu tás
tirando o seu da reta, ché?” — e me aponta o dedo, de bombachas e
faca de prata. Apareceu agora um artigo sobre a “mulher brasileira” e
logo chega a menina sorrindo: “Finalmente, alguém diz a verdade sobre
as mulheres na internet! Mandei isso pra mil amigas, principalmente
porque você diz: “Elas são tão cheirosinhas... elas fazem biquinho e
deitam no teu ombro...” e “quando a mão dele toca tua nuca, tu
derretes feito manteiga” ou “elas têm horror a qualquer carninha
saindo da calça de cintura, tão baixa que o cós acaba!”...
“Eu jamais escreveria ‘cós acaba!’, minha filha!”. “Ah... Não seja
modesto! É a melhor coisa que você já fez!” — e sai rebolando, feliz....
Agora surgiu mais um, onde eu ensino aos homens do meu Brasil como
evitar chifres, como não serem cornos, ou “córnos”? Todos nós já
levamos nossas chifradinhas (saibamos ou não...), mas não sou um
especialista nessa desdita. E o texto é de amargar:
“As ‘mulheres modernas’ têm um pique absurdo em relação ao sexo e,
principalmente dos 30 aos 38 anos, elas querem fazer sexo todos os
dias, e nem precisa dizer que se não for com você... Nem pense em
provocar ‘ciuminhos’ vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma
máquina colocadora de chifres. Quem não dá assistência, abre
concorrência e perde a preferência”. Assinado, eu.
Que vou fazer? Sei que a cornologia é uma ciência respeitável.
Conheço vários tipos famosos de chifrudos, como o “corno Papai Noel”
— aquele que não vai embora por causa das crianças, sei do “corno
asmático”, que chega em casa avisando a mulher com tosse e assobio,
ouvi falar do vacilante “corno cético”, que vê a mulher entrar no
motel com o grande Ricardo e pensa: “O que me mata é essa dúvida...”
E, claro, o magnífico “corno churrasquinho”, aquele que põe a mão no
fogo pela mulher...
O corno é um solitário. Ninguém tem pena dele; até os amigos exultam
quando surge um novo corno na praça. “Antes ele do que eu”, pensam,
como nos velórios. O corno é objeto de riso. Quem sofre pelos chifres
alheios? Uma boa infidelidade acaba com a onipotência de qualquer um.
“Eu sou craque com mulher...” e paff!... lá vem o chifre, e o sujeito
cai na sarjeta mais próxima.
O corno sofre sozinho, com pena de si mesmo, e ainda por cima, depois
de Freud, dizem que ele é culpado pelos próprios chifres. Ou, pior,
que ele não passa de uma boneca enrustida que “desejava” a traição,
por oblíquo amor ao Ricardão. E, se ele se recuperar rápido demais,
causa desconfiança, por falta de hombridade. O corno compreensivo,
progressista, é visto apenas como “manso”.
Ao corno não adianta reclamar, pois o mal já foi feito: nada refará a
virgindade conjugal perdida. Raramente, os cafajestes são cornos, ao
contrário do que se pensa. Em geral, os bonzinhos é que dançam, pelo
erro de dar garantias de vida à mulher. Mulher só ama o impalpável, e
o cafajeste tem uma aura mitológica. Mulher detesta homem frágil, que
pede ajuda. É chifre na certa (cartas feministas à redação...), o que
lhe faz apaixonado pela mulher traidora. A dor da paixão é seu
consolo. A mulher não é corna, a mulher até se consagra com a traição
do homem — mártir e heroína de um amor perdido.
Hoje em dia, o brasileiro está em pânico com os chifres porque se
sente corneado na vida real. Acabamos de levar mais um chifre na
Copa, com o Zidane comendo nossos craques, nós que confiávamos tanto
neles. Choramos em meio-fios e botequins as lágrimas da ingratidão.
Somos cornos na política também, com deputados, senadores e o Lula
fazendo conosco o que ricardões executam com nossas mulheres. Com os
mensaleiros se candidatando de novo, com os sanguessugas impunes, com
o PMDB nos Correios, estamos com uma galhada florescente nas cabeças.
Humilhados e ofendidos, e não temos a quem nos queixar.
A propósito, recebi outro dia um e-mail de um corno “histórico ou
político”, para quem a crise nacional e a crise pessoal se misturam
numa única dor:
“Boa tarde, meu caro Arnaldo. Após ler sua coluna sobre as traições
da política, me senti como um namorado traÍdo que esperava uma
entrega total por parte de sua namorada, pois há um bom tempo
estávamos planejando morar juntos. Para minha surpresa, o que recebi
como resposta aos meus anseios foi aquela famosa frase: ‘Sente aqui
que precisamos conversar’... Um calafrio correu em minha espinha, e o
inimaginável aconteceu. Ela decidiu que cada um iria em direção
oposta ao outro. A decepção tomou conta de mim, pois aquilo que de
bonito havia em minha vida transformou-se em frustração. Eu me senti
com a dor causada pelo fracasso gigantesco na Copa. Do alto de meus
37 anos, vejo que sou apenas mais um refém da situação caótica em que
vivemos neste País de Ladrões, Políticos Corruptos e Governantes
Marionetes... Hoje, é difícil bater no peito e dizer que sou
Brasileiro. É angustiante e estarrecedor ver que até os jogadores não
são mais brasileiros, venderam-se por um punhado de dólares e
esqueceram suas origens. Aí, vos pergunto, seu Arnaldo: “Esse País
está fadado ao fracasso, ou posso sonhar com a volta de minha amada?
Atenciosamente...”
Está aí. Imito minha imitações, mas é tudo verdade. Podem publicar na
internet. Eu negarei que tenha escrito.