Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 17, 2005

VEJA Tales Alvarenga O testamento do PT

"Resta uma questão desconfortável para
os brasileiros. Como o petismo conseguiu
enganar tanta gente ao mesmo tempo?"

Segundo as últimas pesquisas, o presidente Lula deverá perder a eleição de 2006. O partido mostrou-se incompetente e desonesto. E não há carisma que se sustente quando a sociedade inteira descobre que caiu num golpe de políticos espertalhões. Conforme mostram as pesquisas, a fama ruim de Lula e do PT acaba de chegar às periferias e aos grotões.

Feitas as contas, a experiência do Brasil com os petistas saiu barata. Roubaram e mentiram muito, mas, pelo menos, não destruíram as instituições nacionais, como fez o fanfarrão Hugo Chávez na Venezuela. Resta uma questão desconfortável para os brasileiros. Como o petismo conseguiu enganar tanta gente ao mesmo tempo?

Lula conseguiu o milagre. Conquistou simultaneamente as periferias e a inteligência acadêmica com o mesmo discurso que hoje dá nos nervos dos brasileiros. Suas metáforas simplórias e seu descompromisso com a racionalidade encantaram igualmente os ignorantes e aqueles que são tidos como grandes sábios. Conhecidos professores da USP chegaram a posar como cenário de fundo para a propaganda eleitoral criada pelo marqueteiro Duda Mendonça. Estão com tanta vergonha do papel de bobo que Duda os fez representar que, tagarelas como eram, andam mudos até hoje.

Lula tinha características únicas como candidato, mas foi preciso aparecer Duda Mendonça para fazê-las emergir. Ao contrário dos professores que o apoiaram, nunca usou expressões que a malta não entende, como "um mundo solidário" ou "a iníqua distribuição de renda no país". Na campanha, falava em "três refeições por dia" e na "segurança de um salário garantido no fim do mês". Lula foi pobre na infância e sempre soube falar com sinceridade das coisas que só os pobres conhecem. Isso lhe trouxe o voto da periferia e do grotão. A classe média aderiu quando Duda apagou a imagem do "sapo barbudo" e criou o Lula boa gente, bem-comportado, cheio de amor para dar.

Os intelectuais das universidades, esses vieram por gravidade. A universidade tende à esquerda. Pode-se comparar a ilusão política da esquerda a um impulso em direção ao primitivo. O intelectual esquerdista acredita na pureza original do ser humano. Dispondo dessa matéria-prima intocada, acha ele, pode-se construir uma sociedade livre de compulsões como a ganância, o egoísmo e a inveja. O esquerdista, mesmo que não tenha consciência desse fenômeno (e em geral não tem), imagina que o capitalismo é o pecado original da humanidade, aquele vício tenebroso que torna o homem incapaz de cooperar com os semelhantes. A derrubada do Muro de Berlim deu um solavanco nessa utopia regressiva. Mas a pastoral retrô continua se esgueirando por aí, entre saudosistas da velha bússola marxista.

Lula nunca foi esquerdista, mas sempre enfatizou (indireta e inconscientemente) a necessidade de despertar o bom selvagem que existiria dentro de cada um de nós. Sua pregação é a da luta do bem contra o mal, da solidariedade contra o egoísmo. Isso lhe trouxe a adesão hipnotizada dos bispos católicos e dos intelecas. Tanto intelectuais quanto bispos se sentiram traídos pelo "neoliberalismo" de Antonio Palocci. Mas, a essa altura, já estavam presos no alçapão lulista de apanhar pássaros distraídos.


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