Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 06, 2005

Editorial de O GLOBO

Face do terror

A violência que estrangula a população está há algum tempo numa assustadora tendência de agravamento. Numa visão retrospectiva, cada crime grave tem sido superado por um mais selvagem. Mesmo quando há momentos de certa trégua, a paz relativa é quebrada, e sempre de forma dramática.

O cardápio dos crimes é variado. Há delitos em que são nítidas as impressões digitais da banda podre da polícia. Há outros, relacionados diretamente ao tráfico de drogas. Por exemplo, os tiroteios que ameaçam milhares de pessoas obrigadas a trafegar em vias de acesso à cidade.

Para confirmar essa deterioração da segurança pública surge agora o primeiro ato de terrorismo clássico cometido pelo tráfico contra a população. Fazer o maior número de vítimas possível entre pessoas comuns é objetivo prioritário do terror. E foi o que aconteceu no ataque ao ônibus da linha 350, Passeio-Irajá, semana passada, em Brás de Pina.

Esse crime inominável, que carbonizou cinco pessoas, entre elas uma criança de um ano de idade, e deixou mais de uma dezena de feridos, revelou outra faceta trágica: a da cooptação de adolescentes pela criminalidade. Mesmo policiais experientes baquearam diante da frieza do depoimento de uma adolescente de 13 anos ao confessar a participação no ataque ao ônibus. Sem se comover, disse que a ordem do chefe do tráfico local era matar todos queimados, em represália à morte de um comparsa num confronto com a polícia.

A multiplicação do envolvimento de menores com o crime prova que o Estado brasileiro não consegue romper a correia de transmissão da violência entre gerações. E quanto mais jovem, mais sanguinário costuma ser o bandido. A tragédia de Brás de Pina atesta a incapacidade do poder público de quebrar essa cadeia sucessória na criminalidade.

Na essência do problema está a ausência de políticas públicas efetivas em campos como saúde (planejamento familiar) e educação. Há, também, nesse pano de fundo, deficiências na legislação penal, onde se destaca um Estatuto do Menor deslocado da dura realidade das ruas.

O que mais será preciso acontecer para o Estado e a sociedade se mobilizarem de forma radical contra a debacle social que não pára de destruir a vida nas regiões metropolitanas brasileiras?

Arquivo do blog