Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 06, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

DO PT PARA A COTEMINAS
 
Em mais um caso que evidencia o uso de recursos de caixa dois pelo PT, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, identificou um depósito de R$ 1 milhão realizado pelo partido em conta bancária da Coteminas. A empresa pertence a ninguém menos do que o vice-presidente José Alencar.
O depósito foi reconhecido pela empresa e também pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, mas não pela atual direção da legenda. Ele refere-se a uma parte da dívida de R$ 12 milhões contraída pelo partido com a Coteminas, que, no ano passado, forneceu 2,75 milhões de camisetas para a campanha eleitoral.
Para o sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, Gustavo Fruet (PSDB-PR), tudo indica que a operação foi irregular. O comprovante do depósito registra que ele foi feito em dinheiro e o depositante está identificado por um número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica utilizado pelo PT.
Já não é nenhuma novidade o uso de recursos "não-contabilizados" pelo partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o caso apresenta pelo menos dois aspectos importantes. O primeiro -óbvio e já mencionado- é que a empresa pertence ao vice-presidente da República.
O segundo reside no fato de a data do depósito -17 de maio deste ano- ser posterior a 1º de outubro de 2004, dia que, segundo o operador Marcos Valério, marcaria o encerramento das movimentações de caixa dois feitas por ele para o PT, no total de R$ 55,8 milhões.
Como concluía a reportagem sobre o caso, publicada por esta Folha no domingo, esses fatos sugerem ou que Valério omitiu parte do dinheiro irregular do esquema por ele operado ou que Delúbio Soares dispunha de outra fonte ilícita. A dúvida precisa ser dirimida pela CPI, bem como o verdadeiro papel do vice-presidente em mais esse episódio estarrecedor.

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