FSP
A República Dominicana cultua o "índio desconhecido", e seus intelectuais oficiais produziram a narrativa histórica da mestiçagem entre brancos e ameríndios para minimizar a contribuição africana à formação nacional. Entre os dominicanos, ser negro é ser "haitiano", ou seja, estrangeiro. No vizinho Haiti, o país da revolução dos escravos, a cor é uma metáfora de poder social: "Nèg rich sé mulat; mulat póv sé nèg" (negro rico é mulato, mulato pobre é negro), como se diz por lá.
A Libéria foi fundada por escravos americanos libertos, sob os auspícios de organizações filantrópicas dos EUA. Os colonos impuseram-se às tribos locais e monopolizaram o poder de Estado desde a independência, em 1847, até o golpe de Samuel Doe, em 1980. A elite afro-americana, mirando-se nas potências coloniais, imbuiu-se da missão de "civilizar" os nativos e, no início do século 20, chegou a escravizá-los. Lá, até hoje, a palavra "americanos" separa os descendentes dessa elite da massa de "africanos".
Em Ruanda, os colonizadores belgas criaram, primeiro na antropologia e depois na legislação civil, as duas "etnias" africanas, conferindo identidades "naturais" aos estamentos tradicionais de criadores de gado (tutsis) e camponeses (hutus). A cisão étnica fabricada serviu, após a independência, como pretexto para a imposição de uma ditadura hutu, de políticas de cotas "raciais" no serviço público e no ensino superior e, numa conclusão trágica, para o genocídio de um milhão de tutsis em 1994.
No Brasil, sob o signo da ideologia da mestiçagem e do "branqueamento", a polaridade brancos/negros deu lugar à construção de identidades intermediárias, fluidas, que a linguagem censitária agrupa no rótulo "pardos". O contraste com os EUA é marcante. Lá, não há meios tons: ou se é branco ou se é negro. Nas últimas décadas, as políticas afirmativas americanas beneficiaram uma pequena parcela dos negros enquanto cresciam as desigualdades sociais e minguavam os investimentos públicos em educação, saúde e habitação.
Nos EUA, negros são "afrodescendentes", um termo destinado a naturalizar diferenças sociais e culturais, cristalizando-as pela restauração do conceito anacrônico de raça. A alcunha deveria ser considerada ofensiva, pois seu pressuposto lógico é a noção racista de que a África constitui uma matriz cultural e biológica unitária, mas se tornou uma bandeira política compartilhada por intelectuais conservadores e ONGs supostamente progressistas.
O Brasil mimetiza as políticas sociais dos EUA, que são compatíveis com a ruína dos direitos sociais universais. A Secretaria da Igualdade Racial, controlada por ideólogos fanáticos, funciona como um dínamo de reengenharia étnica. Seus dirigentes e as ONGs chapa-branca que circulam em torno da luz do poder engajaram-se na "retificação" da história do país, dividindo a nação entre "brancos" e "afrodescendentes".
A rede tentacular da operação engolfou o Ministério da Saúde, que se empenha em inventar o conceito de "doenças de negros" e elaborar estratégias de saúde pública focalizadas nos "afrodescendentes". Nesse Dia Mundial de Luta contra a Aids, o tema do Brasil é "Aids e racismo", e os negros são o foco das campanhas de conscientização sobre a doença.
Como a Aids é só pretexto, faltam preservativos nos postos de saúde.
Entrevista:O Estado inteligente
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