O que está por trás da reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) que se encerrou ontem no Rio é a tomada de posição do PFL na disputa presidencial: apresentar uma plataforma verdadeiramente liberal como alternativa para o desenvolvimento do país. A IDC, presidida pelo ex-presidente de governo espanhol José María Aznar, se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo, entre eles os brasileiros PSDB e PDT, sendo que o PT já iniciou seu namoro para aderir, apesar de algumas divergências conceituais ligeiras.
O que o PFL sugere é que PSDB e PT têm a mesma formação social-democrata, e por isso seus governos não conseguem levar o país ao desenvolvimento pleno. Estaria na hora de tentar a experiência liberal. O raciocínio do senador Jorge Bornhausen, presidente do PFL, que foi o anfitrião do encontro, é o seguinte: o Plano Real foi realmente um sucesso, fez com que fosse destruída a cultura da hiperinflação, promoveu uma grande inclusão social.
Mas desde o momento em que o país foi atingido pelas crises internacionais, que persistiram de 1998 até 2002, sofreu uma estagnação em seu desenvolvimento, e todas as medidas da área econômica foram voltadas apenas para manter a estabilidade da moeda. Essa mesma política tem continuado no governo do Lula, que tem uma gestão pior que a do governo anterior por faltar a ele a credibilidade que tinham homens como o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, ou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
Por isso, raciocina Bornhausen, tiveram que fazer ajustes mais fortes do que deveriam ter sido feitos. Bornhausen enumera: aumentaram os juros quando não deveriam, aumentaram o superávit fiscal quando não precisavam, tudo para ganhar credibilidade no mercado internacional. Essa política redundou em uma recessão em 2003.
Quando o mundo cresceu, no ano passado, "tivemos um crescimento também, mas não devido ao governo, e sim em função do crescimento do comércio mundial", diz Bornhausen, que ressalta que se a economia brasileira cresceu 5,2%, cresceu menos que a média dos países emergentes, e muito menos que países como a Índia ou a China. Além do mais, "o emprego formal cresceu só 1,2%, e o informal 6%. Quer dizer, o informal cresceu cinco vezes mais que o formal, por causa dos impostos".
Esses dados mostram, para o senador Bornhausen, que esta receita está errada, e o problema está no tamanho do Estado. "Nós não defendemos nem o Estado atual, que é grande demais, tem gorduras, nem o Estado mínimo, que considera o mercado como comandante do processo de uma sociedade. Nós defendemos o Estado eficiente", diz ele, carimbando o que será o mote da campanha presidencial.
O presidente do PFL reconhece que esse estágio não foi alcançado no governo Fernando Henrique, mas também não no governo Lula, e pela mesma razão: "A solução sempre foi aumentar tributos para aumentar os gastos. Nunca houve corte nos gastos públicos". Para Bornhausen, "precisamos de uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho da administração, em todas as instâncias de poder, e fazer, gradualmente, uma redução de impostos, para permitir que a sociedade produtiva gere os empregos, e não fazer como hoje, que o governo está gerando 40 mil empregos desnecessários, com todo o peso e o custo que esses empregos têm para o país".
É esse modelo de gestão que o PFL está buscando nesses seminários. Entre os técnicos engajados no projeto estão nomes como Cláudio Adilson Gonçalves, Everardo Maciel, Raul Velloso, Gustavo Loyola. O conjunto de estudos vai gerar dois documentos básicos, de cuja confecção o ex-ministro Gustavo Krause se encarregará: um de princípios, e outro de plataforma. A pretensão é que estejam prontos em 16 de junho, quando se realizará o Congresso do PFL.
Depois, Bornhausen diz que "vamos continuar trabalhando com seminários sobre educação, infra-estrutura, políticas setoriais para podermos ter credibilidade para propor um contrato com a sociedade brasileira". Essa será a plataforma do candidato à Presidência da República, o prefeito do Rio Cesar Maia, que vai ser o vocalizador do programa de governo e está coordenando todos esses trabalhos.
Ontem, tanto Cesar quanto Bornhausen se preocuparam em explicar que a Internacional Democrática de Centro não é uma união de partidos de direita. Representa "um movimento de centro reformista e humanista", segundo Bornhausen, que procurou chamar a atenção para o fato de que ela "é comandada por alguém que executou as políticas liberais no governo, e obteve grande sucesso naquilo que nós entendemos que é a grande luta do mundo moderno, a geração de empregos". Bornhausen ressalta que a Espanha teve um surto de desenvolvimento e geração de empregos nos oito anos do governo de José María Aznar "nunca acontecido".
Essas mesmas políticas, identificadas com os ideais liberais estão representadas também por Jacques Chirac, na França; Durão Barroso, do PSD em Portugal, hoje presidente da Comunidade Européia, e principalmente George W. Bush, nos Estados Unidos. É nesse contexto que se insere a decisão dos líderes do PFL de assumir sua identidade com mais clareza.
No mundo globalizado, eles acreditam que o que diferencia as tendências partidárias são menos as medidas econômicas, e mais a maneira de agir do Estado para atingir os objetivos de bem-estar social para os cidadãos. E que os países mais adiantados, neste início do século 21, estão tendendo, politicamente, ao conservadorismo. O PFL não se contenta mais com a "contaminação" social-democrata, quer fazer um vôo solo em 2006.
o globo
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