Nesse episódio da recuperação da Varig, não adianta criar fantasias impossíveis. Vamos aos fatos objetivos:
A Varig é uma empresa que tem uma dívida impagável e uma administração totalmente sem credibilidade. Afirma-se que, com as últimas mudanças, a Fundação Ruben Berta (que controla a Varig) teria transferido todos os poderes para a nova administração -composta por pessoas com credibilidade. Suponhamos, só para simplificar o raciocínio, que os direitos conferidos à nova administração sejam absolutos e irretratáveis. O que mais sobra?
Primeiro a estrutura de passivos da Varig. A maior parte dos credores é do setor público, área em que a legislação é extremamente rígida para permitir deságios de dívida.
Do lado privado, todos os grandes credores estão garantidos por recebíveis da companhia. A Varig anuncia lucro operacional. Só que um enorme percentual desses recursos já tem destinação certa, para credores garantidos.
O acordo firmado com a TAP (Transportes Aéreos Portugueses) inclui um aporte, para dar sobrevida à empresa, e a possibilidade de boa vontade dos credores internacionais -especialmente das companhias de leasing. Ontem à tarde, o ministro da Defesa, José Alencar, declarou-se entusiasmado com a proposta, depois de ter recebido a nova equipe.
Pode ser que tire a Varig de uma encalacrada de curto prazo. Nesta semana, vencia o prazo dado por credores de leasing e seus aviões voltavam a ficar sujeitos a arresto internacional.
Mas o desafio da recuperação não é fácil.
A reestruturação precisaria, primeiro, da concordância dos credores, inclusive daqueles que dispõem de garantias reais. Do lado público, há uma enorme inflexibilidade para negociar deságios na dívida.
Confia-se que a ação da Varig contra a União (em razão do congelamento de tarifas no Plano Cruzado) permita o chamado "encontro de contas". A empresa conseguiu vitória no STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas o caso vai até o STF (Supremo Tribunal Federal).
De qualquer modo, mesmo que a decisão demore, havendo garantia de recebimento, o comprador ou novo sócio da companhia estaria "hedgeado". Como a ação não significará dinheiro novo no caixa da empresa, mas pagamento de dívidas públicas, a sentença não é crucial para a vida da companhia.
De qualquer modo, ainda há um longo caminho a percorrer. Pior: há uma corrida contra o tempo, já que, a cada mês que passa, mais a companhia perde espaço no mercado.
Pactual
Os jornais noticiam que o Goldman Sachs pagará US$ 2 bilhões pelo Pactual. Como é que fica a tributação? O aposentado da Vila dos Remédios paga Imposto de Renda quando vende seu sobrado. O banqueiro não? Supondo que o lucro da operação seja de US$ 1,4 bilhão, a tributação permitiria, por baixo, US$ 400 milhões para os cofres públicos, a serem aplicados em educação, saúde ou na redução da dívida pública. Esse caso será emblemático para que o governo Lula demonstre, de uma vez por todas, que é diferente do antecessor.
folha de s paulo
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