Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, maio 19, 2005

JANIO DE FREITAS:Tudo pelos parceiros

Muito apreciável, apesar da má repercussão, o gesto de solidariedade de Lula ao deputado Roberto Jefferson. Ainda mais pela limpidez da frase: "Nós temos que ser parceiros, e parceiro é solidário com parceiro". Mesmo quando um tem os deveres de presidente da República e o parceiro é um parlamentar acusado de chefiar praticantes de corrupção em instituições públicas. O governo Lula não pode inovar em tudo, como ele diz, mas vê-se que, onde pode, inova.
Só não percebe quem não quer. Caso do "Globo" de ontem, que interpretou destorcidamente uma frase do candidato Lula e, mais injusto ainda, atribuiu-a a "um misto de ingenuidade e auto-suficiência". Eis a frase-compromisso: "Se ganharmos a eleição, parte da corrupção neste país desaparece no primeiro semestre".
Mais do que nunca, justifica-se o lugar-comum: dito e feito. Não foi aquilo mesmo que Lula provocou, ao assumir? Parte da corrupção desapareceu logo. Foi a parte praticada por corruptos que não puderam passar do governo Fernando Henrique para o sucessor.
Esses vazios tucanosos, Lula começou com presteza, e nunca mais parou, a preenchê-los com indicados por seus parceiros Roberto Jefferson, Edson Lobão, Ney Suassuna, Pedro Côrrea, outros do PP de Maluf, tantos outros aos milhares, e, vá lá para não negar a regra, o parceiro Severino Cavalcanti.
Ainda em favor de Lula e contra a maledicência: na frase agora relembrada, Lula teve até o preciso cuidado de falar no desaparecimento, não de toda, mas só de "parte da corrupção". A outra parte é essa que está aí, solta e voraz, como se continuará a constatar nos próximos dias. E semanas e meses. Com ou sem CPI.

Bons exemplos
A propósito de CPI, o medo que o governo está de sua instalação, reflexo do que ele sabe de si mesmo, mostra-se até onde não quer. Por exemplo, na tentativa do jornalismo parceiro do governo de argumentar, para leitura de parlamentares, que o Congresso corre mais riscos do que o governo com um inquérito parlamentar. Como estaria provado na razia sofrida quando de CPIs que também o atingiram, das quais a dos Anões do Orçamento é simbólica.
Há todas as provas de que o Congresso fortaleceu-se expressivamente, na opinião pública e no seu próprio interior, com todas as demonstrações moralizantes que deu, ao se livrar de maus parceiros. O efeito positivo para o Congresso, a partir da CPI do Orçamento, só não foi maior que o da CPI de Collor/ PCFarias.

Criminal
Não há o que comentar na agressão da PM à passeata do MST em Brasília, já que, apesar da violência, os dirigentes do movimento foram congratular-se com Lula em palácio, acentuando a parceria, inclusive, com mais um bonezinho.
Mas o ocorrido não dispensa uma observação: a volta ao uso de espadas pela PM é uma monstruosidade inadmissível. As espadas não se justificam mais nem como elemento decorativo dos cavalarianos da PM. Quando usadas em cargas de cavalaria contra civis têm a finalidade, única possível, de produzir ferimentos gravíssimos, senão fatais.
folha de s paulo

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