Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 06, 2005

LUÍS NASSIF:Da técnica e dos valores

 A respeito da coluna "Severino, o político", do dia 3, recebo o seguinte e-mail de Valdelis Okamoto:
"Meu nome é Valdelis. Tenho 34 anos, sou médica intensivista em São Paulo. O que me precipitou a escrever para você foi a sua coluna "Severino, o político". Ela me "pegou de jeito", em um momento bastante especial da minha vida, embora não ache que o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti seja alguma espécie de estadista".
"Sou daquelas pessoas da classe média, com aquele característico orgulho de ter estudado no Colégio Bandeirantes, na Cultura Inglesa e na Universidade de São Paulo. No final de 2003, terminei o meu doutorado na mesma Universidade de São Paulo -sou uma verdadeira "prata da casa" -e, após isso... achei-me desorientada, órfã de "objetivos temporários" a perseguir."
"Tive a sorte de ter sido convidada para visitar a Universidade de Washington, em Seattle, e sua coluna me pegou no terço final dessa visita de três meses. Suas observações sobre a elite do nosso país, da qual eu julgo fazer parte, coincidiram com as conclusões a que dolorosamente venho chegando, ao acompanhar o dia-a-dia dos meus colegas americanos, enquanto tento aprender com eles como fazer pesquisa clínica."
"Acredito que muitas pessoas que se julgam "da elite", como eu, podem passar um tempão no exterior bem preocupadas em aprender uma técnica, um procedimento, em obter um Ph.D., em publicar "papers", em usar um daqueles aventais com um embleminha americano (no caso dos médicos) e, no entanto, sem nada absorver dos princípios e valores que regem a organização dessas sociedades mais avançadas do que a nossa, como você bem apontou na sua coluna."
"Somente conversando com meus colegas e amigos americanos pude perceber o tamanho da minha ignorância a respeito dos problemas de saúde no Brasil. Somente vendo como funcionam as unidades de terapia intensiva americanas é que pude avaliar a minha falta de noção de conjunto das UTIs brasileiras -e o assunto terapia intensiva é complexo e delicado, pois, por um lado, oferece a chance de recuperação de situações muito graves, e, por outro, pode levar ao prolongamento sem sentido do processo de morte, como um substituto capenga para a falta de preparo na oferta de cuidados paliativos eficazes -mas isso é assunto para outra carta!"
Valdelis abriu os olhos e enxergou. Certamente, voltará dos Estados Unidos agregando não apenas técnicas mas maneiras diferentes de olhar a saúde do país. Não será nem cabeça de planilha nem cabeça de tomógrafo, mas uma brasileira efetivamente internacionalizada -na melhor acepção do termo, e não como tantos Ph.D.s que voltam de lá, sem referência nem de Brasil nem do mundo que freqüentaram como penetras no baile.

Garoto
No dia 3 de maio, completaram 50 anos da morte de um dos músicos fundamentais da música popular brasileira do século 20: Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto. A data passou em branco.
FOLHA DE S.PAULO

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