Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, maio 09, 2005

Lucia Hippolito :Contra alianças de cima para baixo



"Pelo visto, além da demissão do ministro Aldo Rebelo, a semana será marcada pela discussão da emenda constitucional que acaba com a verticalização das alianças para a eleição de 2006.
O assunto é importante porque enquanto, não ficar decidido, não se pode começar a montar os palanques nos estados.
Só para lembrar: a verticalização foi imposta na eleição de 2002 e dizia que alianças firmadas para apoiar o candidato a presidente têm que ser reproduzidas nos estados.
A verticalização interessa sempre ao partido que ocupa o Palácio do Planalto, seja ele qual for. O PT, que em 2002 era radicalmente contra e dizia que era uma manobra para beneficiar José Serra na disputa contra Lula, agora tinha ficado a favor. Não todo o PT, mas o grupo em torno de Lula.
Mas o PMDB sempre foi contra, porque é um partido que entende a força da lógica estadual na política brasileira. Afinal, o PMDB é uma federação de partidos estaduais.
Lula quer porque quer uma aliança com o PMDB. Inclusive, acha melhor ter uma parte do PMDB do que não ter PMDB nenhum. Por isso, determinou que o PT vote a favor do fim da verticalização, coisa que o partido vinha se recusando a fazer.
A verticalização é uma camisa-de-força. Em qualquer país federativo, nem sempre o sistema partidário nacional se reproduz automaticamente nos estados.
Os diretórios estaduais assumem as características da cultura local e, por isso, a dinâmica política de cada estado é diferente. No Rio Grande do Sul, por exemplo, a disputa sempre foi bipartidária, o mesmo acontecendo na política carioca. Já São Paulo sempre foi pluripartidário.
O PFL de Santa Catarina não é igual ao da Bahia, assim como o PT de Minas não é igual ao de Alagoas. E por aí vai.
Esta é uma verdade da política brasileira: a enorme força da lógica política estadual. É dos poucos casos em que a federação realmente funciona no Brasil.
Há 60 anos os partidos políticos brasileiros são nacionais. Por que será que até hoje o eleitorado tem preferido respeitar a lógica da política estadual? Não é imposição de caciques; é o reconhecimento da total racionalidade da escolha do eleitor.
Com o partido do governo reconhecendo que a realidade brasileira é contra a verticalização, talvez seja possível aprovar a emenda constitucional que acaba de vez com esta história."
BLOG Ricardo Noblat

Nenhum comentário:

Arquivo do blog