Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 10, 2005

ELIANE CANTANHÊDE :Recados a Washington

 BRASÍLIA - A cúpula entre árabes e sul-americanos só começa efetivamente hoje, mas desde ontem seus participantes -inclusive o Brasil- já deixaram claro que os EUA tinham todos os motivos para ter pulgas atrás da orelha.
Bastou os chanceleres começarem os discursos para entrar em cena o conflito na Palestina, solene e pairando sobre tudo o mais. Amorim falou primeiro e já deu uma espetada, dizendo que a reunião ensina a ""outras regiões do mundo" como se fazem as coisas em paz, com justiça etc. etc. O representante argelino veio depois e aprofundou o recado: defendeu a soberania e a auto-determinação dos povos e criticou a ocupação do território palestino. Washington não pôde enviar observador, mas certamente sabe em tempo real o que se passa. E não está gostando.
Fora isso, quem não estava gostando nada das coisas durante o encontro eram os jornalistas, nacionais, árabes ou sul-americanos. Relegados a um auditório e a dois telões, não entenderam nada quando Amorim começou a falar... sem som! Na galega, acabaram invadindo a própria sala onde os chanceleres se encontraram. Estava um forno e não havia fones suficientes para a tradução simultânea. Em português e em árabe!
No final, em vez de aparecerem Amorim e o representante da Argélia para a entrevista coletiva, não apareceu ninguém. O brasileiro decidiu improvisar um tumulto no meio dos salões, enquanto o argelino nem sequer deu as caras. Se faltaram fones de tradução para os discursos, sobraram para a entrevista que não houve. Com a mão na cabeça, uma jornalista francesa comentava: ""Não é um país sério, não é um país sério".
Também, com árabes e sul-americanos, não deveria mesmo se esperar muito pior. Só se tivesse africanos junto. Aliás, havia: os árabes do norte da África -argelinos, marroquinos, tunisianos. Fechou-se o cerco. Deve ser assim que eles se entendem. E que os EUA não entendem nada.
folha de s.paulo

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