Os ares da Suíça, por séculos recomendados à boa saúde, não fazem bem a Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Se não pisa em falso e quebra algum osso, voltando ao seu posto com muletas, pisa em falso na história, na lógica, em alguma forma de conhecimento em que deveria transitar com chão firme.Em entrevista sem aparente razão de ser, Henrique Meirelles deu jeito de intrometer esta frase: "Não existe país que tenha crescido com inflação alta".Existe. O Brasil. Entre outros casos. No governo Juscelino, por exemplo. Está muito longe? Então, no governo Sarney. A inflação foi incontível e recordista, mas o crescimento foi de humilhar, igualmente, o governo Fernando Henrique e o governo Lula. O que levou a outros efeitos que esses dois só podem invejar -como a redução, à metade, da dívida externa em relação ao PIB; a duplicação da renda per capita (em dólares), elevada a nível superior ao do último ano de Fernando Henrique, e com o desemprego em apenas 2,4% na passagem da Presidência à sociedade Collor, PC, Zélia & cia.No governo de Juscelino se identifica o início do processo de inflação indomável, mas nem ao pior despreparo se permitiria ignorar o impulso que, apesar da inflação ou com sua ajuda, as "metas do crescimento de 50 anos em 5" deram ao país.Metas que não se assemelham às de Lula já de princípio. As de JK eram para ser cumpridas e foram. As de Lula rechearam campanha e hoje engordam discursos.Mais razõesHá muito lero-lero sobre a inatividade da Câmara e o esfacelamento do dispositivo governista por lá. Alijado o lero-lero, o que aparece na inatividade é simples: são os governistas, com maioria feita pelo PT, os praticantes da obstrução impeditiva de votações.A obstrução é recurso normal do jogo parlamentar. Próprio da oposição, como o PT tanto o praticou no seu passado de PT, mas não criticável se adotado pelo governo que prevê sua derrota nas votações vindouras. O que não tem sentido, politicamente, nem amparo factual é atribuir a ameaça de derrota do governo a articulações de severinos e a maquiavéis de jantares.A insatisfação com o governo se alastra e se acelera, e a Câmara não é imune a contaminações assim. As críticas ouvidas de deputados "da base governista" não são muito mais brandas, quando o são, do que as feitas de público por oposicionistas. Bastaria, a propósito, notar a fácil prorrogação do mandato de Michel Temer na presidência do PMDB, uma vitória significativa dos peemedebistas de oposição sobre os governistas que se impunham à direção partidária. Seja lá pelo que for, a mídia fez ao governo a gentileza de, distraída, não dar dimensão à virada no PMDB. Mas o fato não coube na gaveta, e está aí o governo, menos distraído e mais perturbado, incentivando possíveis reações judiciais e outras.A moda é severinar tudo. Mas Severino Cavalcanti é muito menor do que a utilização que a mídia está fazendo dele.
folha de s.paulo
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