Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 08, 2005

CLÓVIS ROSSI:Os gafanhotos e a ira



SÃO PAULO - Rola na Alemanha um certo clima de "revival" de Karl Marx, como se subitamente o comunismo tivesse escapado dos escombros do Muro de Berlim.
Tudo porque lideranças do SDP, o partido social-democrata que está no poder com Gerhard Schröeder, andam criticando os excessos do capitalismo. Começou com o presidente do partido, Franz Müntefering, que chamou de "gafanhotos" os investidores que tomam uma companhia, limpam seus ativos e caem fora, deixando muita gente desempregada.
Wolfgang Thierse, o presidente do bloco SPD no Congresso, atacou as empresas que têm lucros excepcionais e, não obstante, botam gente na rua. Citou o caso do Deutsche Bank, que aumentou seus lucros 25% e, ainda assim, anunciou a dispensa de 10% de seus 64 mil funcionários.
Essa situação -altos lucros X dispensas em massa- estaria provocando um ambiente de "ira desesperada", na opinião de Thierse.
Do outro lado do muro, houve reações de uma virulência incompreensível, como a acusação de que os sociais-democratas estão usando "linguagem nazista" para criticar o "big business".
Estão fazendo apenas constatações, a mesma que expõe Edwy Plenel, o editorialista da revista semanal do jornal francês "Le Monde", no número de sexta-feira:
"Os interesses privados, que se legitimam apenas pela concorrência econômica, sem cuidado excessivo com o interesse geral, tudo fizeram para reduzir o espaço próprio da política e de suas decisões, porque entrava suas ambições e limita seus apetites."
É algo que o brasileiro conhece bem, pela brutal conversão aos interesses privados que fizeram os dois governos mais recentes, ambos supostamente parentes próximos ou distantes da social-democracia.
É, definitivamente, a era dos "gafanhotos". É saudável que haja uma reação, mas se ela ficar apenas na retórica, a "ira desesperada" só tende a aumentar.
FOLHA DE S. PAULO

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