Entrevista:O Estado inteligente

domingo, maio 08, 2005

ELIANE CANTANHÊDE :Há negócios e negócios

BRASÍLIA - Zé Dirceu não consegue competir com Palocci na economia e Lula só leva traulitada na política interna. Os dois tentam se salvar na área externa e tem-se aí, na terça e na quarta desta semana, a Cúpula América do Sul-Países Árabes.
Mas, da mesma forma que seria preciso combinar com o PMDB, o PP, o PC do B e o PTB para não passar vexame atrás de vexame no Congresso, é preciso combinar com os "adversários" também no plano externo.
Primeiro, com a Argentina, o vizinho que não pára de reclamar. Depois, com os danados desses árabes. Prometeram vir e não vêm. O que era para ser uma cúpula política está virando uma reunião econômica de caráter comercial. Cúpulas políticas justificam viagens de reis, presidentes, primeiros-ministros. Reuniões comerciais são para outras instâncias, como ministros.
Não significa que o encontro em Brasília esteja fadado ao fracasso, porque ninguém deveria imaginar um gênio, uma lâmpada esquisita e, pronto, 11 presidentes da América do Sul, 22 chefes de Estado árabes desembarcando no cerrado brasileiro.
Entre o sonho e o pesadelo, há um bom espaço para a realidade de conversas, trocas e promessas entre árabes (que têm petróleo e dinheiro) e sul-americanos (que têm água e produtos). Você tende a ter relações e a fazer negócios com quem conhece, e a intenção do Brasil é conhecer os árabes e ser conhecido por eles.
A China produz muito e a custos muito baixos, a Austrália é forte em agropecuária, e a Índia, em informática. O Brasil precisa ancorar suas relações com os árabes também em outros interesses, inclusive culturais e acadêmicos.
Além disso, cá pra nós, é melhor para Lula suportar um Jalal Talabani (Iraque) ao vivo por dois dias do que um Néstor Kirchner toda hora pelos jornais e os partidos "aliados" por um mandato inteiro. Até porque o negócio com os árabes é um. E, com os severinos, é outro bem diferente.
Folha de S.Paulo

Nenhum comentário:

Arquivo do blog