Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 03, 2005

CLÓVIS ROSSI:Blair e Lula

PARIS - Tudo indica que, na quinta-feira, Tony Blair será reeleito para um terceiro mandato consecutivo, inédito para os trabalhistas.
À primeira vista, a segunda reeleição de Blair indica que Luiz Inácio Lula da Silva tem imensas chances de ser, ele também, reeleito no ano que vem. O que o Reino Unido tem a ver com o Brasil? A rigor, nada, exceto pelas características da disputa política contemporânea que é apenas "a escolha entre personalidades e estilos antes que sobre programas políticos", como disse ao jornal francês "Le Figaro" o analista da Universidade Oxford Theodore Zeldine.
Se é assim, Lula é o favorito menos porque sua personalidade e seu estilo são esfuziantes e mais porque a oposição não tem, por enquanto, um nome capaz de despertar emoções fortes (para o bem ou para o mal, como é o caso do próprio Lula), salvo, talvez, Fernando Henrique Cardoso.
Se é assim à primeira vista, uma olhada em águas mais profundas indica, no entanto, que Blair tem muito mais sensibilidade social que Lula, embora sua imagem, no Brasil, seja a de uma Margaret Thatcher de paletó e gravata.
Primeiro, Blair criou o salário mínimo, que não existia no Reino Unido. Nos seis anos seguintes (até 2005), o aumento do mínimo foi de 40%, a uma média anual, portanto, superior a 6%. No Brasil de Lula, a média anual é de apenas 3,6%.
Segundo, os oito anos de Blair viram o desemprego recuar de praticamente 7%, em 1997, para os 4,8% do ano passado. No Brasil, o desemprego diminui microscopicamente.
Terceiro, parte do crescimento econômico havido nesses oito anos (23,5% no total) se deveu a investimentos públicos, coisa que o "new PT" parece ou abominar ou ser incompetente para fazer.
O Reino Unido de Blair está de longe de ser o paraíso na Terra, mas, ao menos, o trabalhismo ficou confiável para a ortodoxia sem perder totalmente a face, coisa que o PT não soube fazer.
FOLHA DE S.PAULO

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