Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 03, 2005

ELIANE CANTANHÊDE:Paciência tem limite


BRASÍLIA - O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, almoça hoje em Brasília com Lula. Pelo menos 11 chefes de governo ou de Estado (incluindo reis) do Oriente Médio já confirmaram presença na cúpula árabes-sul-americanos. O chanceler Celso Amorim acaba de discursar sobre democracia no Chile e de marcar presença na crise do Equador.
Mas todo esse esforço pode ir por água abaixo por causa de um parceiro teimoso: a Argentina.
Como venho dizendo, Néstor Kirchner não está aí para brincadeiras, só se forem de mau gosto. Toda hora é uma canelada. Ou ele não aparece nas reuniões de presidentes, ou veta a participação de seu chanceler, ou solta uma nota irônica.
Pode ser ciúme, por causa do decantado "protagonismo" brasileiro, da balança comercial francamente favorável ao Brasil ou desse ar de bom-moço que o governo Lula assumiu com organismos internacionais e com o tal do mercado.
Seja o que for, essa posição beligerante da Argentina é perigosa para o Mercosul, que está balança-mas-não-cai e é imprescindível como alavanca para os sonhos grandiosos do Brasil na área externa.
Além disso, não é nada alvissareira num continente já cronicamente debilitado por milhões de miseráveis e pela instabilidade política. Neste mesmo momento, há insegurança na Bolívia, no Peru, no Equador, na Colômbia, crise aguda na Nicarágua e há aquele nosso velho amigo Hugo Chávez, cada vez mais atrevido diante de Washington.
Bater de frente com a Argentina não é prudente, mas mesmo os diplomatas mais experientes começam a achar que o Brasil está apanhando quieto demais. Não será surpresa se, diante de um fato novo, o Brasil saia da candura e parta para a ignorância. Até na diplomacia um bom solavanco às vezes ajuda que é uma beleza. Só falta o vice-chanceler Samuel Pinheiro Guimarães deixar. Azedo como ele só com os EUA, ele é um doce com a Argentina. Tudo tem limite.
FOLHA DE S.PAULO


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