Acreditar e resistir. E passar à ofensiva o quanto antes. E esmagar o inimigo antes que o país do futuro seja condenado a existir apenas na letra ufanista do Hino Nacional. Como só haverá futuro se a civilização sobreviver ao presente, combater a corrupção é mais que necessário: é a única alternativa para quem tem vergonha na cara. É missão a ser cumprida. Tal missão, contudo, vai-se afigurando excessivamente penosa mesmo aos olhos de otimistas irredutíveis.
Na semana passada, outra seqüência de episódios sórdidos comprovou a multiplicação das frentes da guerra. Será complicado vencê-la. Já é difícil travá-la. Como levar ao triunfo, distribuídas por batalhas simultâneas, tropas assoladas por carências crônicas? Sempre carentes de armas, agora carecem de ânimo, minado pela fuga de velhos guerreiros e, agora, por generais desertores. O mais recente é também o mais estrelado: Luiz Inácio Lula da Silva.
Os encantos do poder amoleceram a têmpera do sindicalista promovido, ainda jovem, a marechal-de-campo dos exércitos petistas dispostos a guerrear contra todos os governos. Comovido com o pedido de socorro do deputado Roberto Jefferson, suspeito de sistematizar a ladroeira nos organismos controlados pelo PTB, o presidente da República estendeu ostensivamente a mão ao presidente de um partido sem programa e sem pudores.
A coluna de terça-feira formulou um apelo ao chefe de governo: "Afaste os corruptos, presidente. E afaste-se deles enquanto é tempo. É só o começo. Mas tornará possível acreditar que, apesar de perdida a virgindade, o PT ainda não caiu na vida." O presidente ignorou o apelo. E tratou de demonstrar que o afago retórico endereçado a Jefferson em outubro passado fora uma genuína declaração de afeto. "Dou a você um cheque em branco e durmo tranqüilo", disse o chefe de governo ao chefão do PTB.
A amizade esbanja solidez. "Estou solidário com o companheiro Jefferson", proclamou o presidente na segunda-feira, já incorporado ao esforço para evitar a criação da CPI destinada a apurar o escândalo das propinas nos Correios. Não o impressionara o show de bandidagem resumido no vídeo obtido pela revista Veja.
Ao defender com fervor de romeiro o ministro em apuros Romero Jucá, Lula deu o primeiro passo no caminho da rendição. No momento, está a alguns metros da capitulação definitiva, graças ao empurrão decorrente do apoio irrestrito a Jefferson.
Foi um soco no rosto do Brasil. Foi também o fecho perfeito para a sucessão de bofetadas desferidas por criminosos bem apadrinhados. No domingo, por exemplo, uma fita veiculada pela TV Globo conseguiu avermelhar a face de quem há tempos não fica ruborizado com cenas de extorsão explícita. Um elenco de deputados comunica ao governador de Rondônia, Ivo Cassol, que aprovará quaisquer projetos em troca de mesadas de R$ 40 mil.
Lula dá pouca importância a esses filmes. Foi assim com o mais famoso da série, estrelado por Waldomiro Diniz. Por que seria diferente com os dois exibidos agora? Para Lula, não são prova de crime nenhum. O Brasil acha o contrário. Quem inventou o Cinema Novo não precisa inventar o Cinema Bandido. Precisa é engaiolar os elencos. Todos os corruptos merecem cadeia.
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