Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 06, 2013

Incerteza - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 06/12

Nunca, como agora, os oráculos do Banco Central tiveram tantos intérpretes e disseram tão pouca coisa.

A Ata do Copom ontem divulgada deveria repassar para os fazedores de preços sua percepção a respeito da inflação futura e do que o Banco Central pretende fazer para contê-la. Não se trata de liturgia vazia; trata-se de informar adequadamente os agentes econômicos sobre o que acontece e sobre os passos seguintes da política monetária (política de juros), a fim de melhor administrar as expectativas e, assim, dar mais eficácia à política.

Explicando melhor: se o Banco Central consegue convencer as pessoas de que a inflação vai cair, mais facilmente conseguirá derrubá-la, na medida em que os remarcadores de preços temerão o encalhe de mercadoria se forçarem demais os preços.

Quem leu atentamente os 71 parágrafos da Ata do Copom, não conseguiu indicações claras sobre o que virá agora. Ainda que a inflação continue renitente - está dito lá -, que o avanço do consumo siga mais forte do que a capacidade de oferta da economia, que o impacto sobre os preços promovido pela alta do dólar (desvalorização do real) tenha de ser compensado com aperto monetário (alta dos juros) e que persista o risco criado pelo aumento dos salários acima da produtividade do trabalho - ainda assim, não há certeza sobre o que virá em 2014.

O Banco Central menciona outras fontes crônicas de inflação, como "os mecanismos formais e informações de indexação" (correções automáticas de preços de acordo com a inflação passada), e deixa subentendido que os preços controlados pelo governo (tarifas) podem ter reajustes mais altos e, nesse caso, ajudarão a empurrar a inflação.

Há umas tantas frases repetidas em atas anteriores agora suprimidas no novo texto e alguma expressão nova acrescentada. Mas não é nada que pudesse ser identificado como novo oráculo relevante dos deuses do Olimpo.

Fica a impressão de que o Banco Central opera no meio de brumas e tem dúvidas sobre o comportamento futuro dos preços. Não consegue adiantar o que pretende e, por isso, vai esperar para ver. Se a inflação voltar a levantar voo, cortará mais algumas penas de suas asas e tal, mas fica a sensação de que o Banco Central gostaria de dar por findo o atual ciclo de alta de juros. Tanto isso é verdade que, no comunicado emitido logo após a reunião do Copom, mencionou que a retomada da alta dos juros começou em abril, como a lembrar que a maior parte do aperto já aconteceu. E, mais uma vez, repisa que a alta dos juros leva um tempo (seis a nove meses) para produzir efeito.

Não dá sinais mais evidentes de que pode parar por aí, por duas razões: porque não vem tendo a colaboração esperada da turma da gastança - circunstância que continua omitida no texto; e porque teme os efeitos sobre o câmbio da superanunciada operação de reversão das megaemissões de dólares por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). São as duas principais fontes de risco de inflação para o Brasil que obrigam o Banco Central a permanecer "especialmente vigilante".

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