Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 06, 2009

Merval Pereira Primeiro Mundo


Um estudo que a consultoria Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão está preparando, coordenado pelos economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, traça os cenários para o Brasil nos próximos 20 anos e mostra o que deveria ser feito para que atinjamos um nível de Primeiro Mundo nesse período de tempo. E também o que pode acontecer de retrocesso para o país se os problemas hoje existentes não forem enfrentados.

O cenário que mostra o Brasil dando “um salto para o Primeiro Mundo” depende de que sejam enfrentados os gargalos estruturais que emperram nosso desenvolvimento, especialmente nos setores de educação e de inovação tecnológica, em um contexto mundial que seria de “variadas oportunidades” para os países emergentes.

A premissa deste cenário otimista é que o Estado, a sociedade e o setor privado passem a ter como objetivo estratégico a eliminação de tais entraves, possibilitando à economia brasileira entrar, definitivamente, em uma trajetória de crescimento sustentado, mantendo taxa de expansão média do PIB entre 4% e 6% ao ano.

Isso acontecendo, na década 2011-2020 o Brasil se tornaria “um imenso e variado canteiro de obras”.

Um ambiente próspero e favorável ao desenvolvimento dos negócios e à atração de investimentos estrangeiros seria viabilizado, com a participação brasileira no fluxo global de capitais passando a ser de 7,5% em 2030, contra apenas 1,9% em 2008.

O revigoramento das instituições e a adoção de novas formas de gestão pública tornariam possível uma contínua melhora da qualidade do gasto e dos serviços públicos, em especial nas áreas de saúde, educação e segurança, preveem os economistas autores do trabalho prospectivo.

O parque produtivo brasileiro passaria por um intenso processo de inovação tecnológica, o que permitiria ao Brasil “inserir-se de forma competitiva na economia global”.

Na esfera ambiental, os avanços no campo da gestão e novos estímulos econômicos alavancariam negócios relacionados à “economia limpa”, de modo que a questão ambiental deixaria de ser vista como entrave ao desenvolvimento econômico.

Neste cenário, o estudo prevê que, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 25 mil em poder de paridade de compra (PPC), equivalente ao da Itália em 2008.

Um cenário menos otimista, mas ainda positivo, foi chamado de “Um emergente retardatário”. O Brasil continuaria correndo atrás de suas possibilidades, embora desperdiçando a maior parte das oportunidades que o contexto mundial voltaria a oferecer, após a recuperação da grave crise econômica que marcou a virada da primeira década do século XXI.

As análises indicam que, à exceção da educação, que experimentaria saltos de qualidade, a ausência de um amplo pacto em favor de reformas estruturais modernizadoras da economia contribuiria para a manutenção de graves entraves ao desenvolvimento nacional.

A economia brasileira perderia competitividade frente a outros grandes emergentes, em especial China e Índia, que trilham trajetória semelhante à empreendida pela Coreia do Sul nos últimos 30 anos do século XX.

O Brasil, em 2030, seria um país dual, tendo de um lado um setor privado dinâmico, inovador e empreendedor, e regiões altamente competitivas, que contribuiriam para que o crescimento econômico do país se estabilizasse em patamar mediano, entre 3% e 4% ao ano até 2030.

Em contrapartida, um setor público pesado e ineficiente e regiões mais atrasadas impediriam ou dificultariam melhorias substanciais no ambiente de negócios e nos indicadores sociais, que experimentariam evolução apenas moderada.

Neste cenário, em 2030 as grandes regiões metropolitanas continuariam a conviver com graves problemas, sobretudo nas áreas de infraestrutura, segurança e emprego, e o Brasil ainda acumularia passivos ambientais de peso. O PIB per capita do país alcançaria os US$ 17 mil (em PPC), próximo ao de Porto Rico em 2008.

Entre os dois cenários, o estudo da Macroplan vê a possibilidade de acontecer uma “mudança de patamar”, que nos colocaria “bem perto do Primeiro Mundo” Neste cenário, enfrentaríamos um “moderado dinamismo” mundial e crises cíclicas, mas no plano interno o enfrentamento continuado dos principais gargalos estruturais do desenvolvimento possibilitaria à economia brasileira experimentar uma mudança de patamar.

Após registrar taxa média de variação do PIB moderada nos primeiros dez anos, de 2010 a 2020, entre 2,5% e 4% ao ano, o Brasil consolidaria a trajetória de crescimento sustentado após 2020, com crescimento acima de 5% ao ano.

A educação daria saltos de qualidade, e haveria uma contínua melhora da qualidade do gasto e dos serviços públicos, impactando positivamente os índices de qualidade de vida e de desenvolvimento regional.

O parque produtivo brasileiro passaria por um processo de inovação tecnológica, e os avanços no campo da gestão ambiental fariam progredir a “economia limpa” que multiplicaria oportunidades de negócios e de geração de renda e trabalho.

Neste cenário, em 2030 o PIB per capita do país alcança os US$ 18,5 mil (em PPC), equivalente ao da Coreia do Sul em 2008.

O cenário mais pessimista é o do “crescimento inercial”, no qual a persistência de graves entraves ao desenvolvimento nacional abortaria a trajetória de aceleração do crescimento econômico registrada nos primeiros anos do século XXI, até a eclosão da crise mundial.

Como resultado, o crescimento econômico brasileiro até 2030 voltaria a cair, situandose entre 1% e 3% anuais. O Brasil voltaria a ser percebido como uma “baleia encalhada”, e repetiria o mesmo padrão de crescimento do PIB observado nas décadas de 1980 e 1990.

Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria apenas US$ 13 mil (em PPC), equivalente ao do Chile em 2008.

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