Muita gente ia gostar e ficar na praia até madrugada alta. Será que as pessoas teriam sono, já que o dia não acaba? |
E SE HOJE, lá pelas seis da tarde, não escurecesse? Num primeiro momento você pensaria que chegou o horário de verão, mas não, não em setembro. E não escureceu às 7h, nem às 8h, nem às 9h, nem às 10h. E a noite inteira o sol brilhou.
Muita gente ia gostar e ficar na praia até madrugada alta. Será que as pessoas teriam sono, já que o dia não acaba? Sempre se pode fechar as cortinas, mas alguma coisa faria com que as pessoas soubessem que algo estranho estava acontecendo. E quando terminasse a programação normal das televisões? E entrar num restaurante para jantar com o dia claro? E voltar para casa à 1h, às 2h da manhã, de óculos escuros?
Talvez num primeiro momento as pessoas achassem graça, mas depois do quinto dia, do oitavo, do 15º, a graça começaria a ter menos graça. E uma paranoia atacaria todos os habitantes do planeta, e começaríamos a ter saudades do tempo tão feliz da epidemia da gripe suína, que pelo menos acontecia dentro de uma certa ordem, no tempo em que tínhamos dia e noite.
E as festas, a que horas começariam? Sendo dia o tempo todo, tanto faz, aliás, tanto faz tudo: a hora de começar a trabalhar, a hora de dormir, de almoçar, de jantar.
Não haveria hora para ninguém sair de casa ou chegar, nem os maridos, nem as mulheres, nem os filhos, hora de começar o colégio, hora de voltar; um dia alguém olharia para o relógio e ficaria na dúvida se eram 10h da manhã ou 10h da noite, e pensaria: e daí? Daí que ele tiraria o relógio do pulso e jogaria fora, convencido da total inutilidade daquele estranho objeto que não servia para nada. E todos jogariam os seus fora, e talvez passassem a ser totalmente livres, pois nada nos aprisiona mais do que o tempo, os horários, as agendas, os relógios. Todos livres, como sonhamos a vida inteira.
Talvez esses pensamentos tenham me ocorrido de tanto ter visto programas sobre os 40 anos de Woodstock, ultimamente. Durante aqueles dias eles foram realmente livres, mas o que terá acontecido depois com cada um deles?
Woodstock foi a festa, mas a festa acabou. E depois?
As mães não conseguiriam acertar o sono dos seus bebês, para que eles aprendessem a dormir à noite -que noite?-, se os maridos chegassem em casa às 8h, como era o costume, ou às 4h da manhã, que mulher reclamaria, com o céu azul e o sol brilhando? E seria uma confusão nas bolsas de valores, com a diferença de horários, e em Brasília, e nos aeroportos, pois ninguém teria mais noção dos horários dos aviões, e o mundo se transformaria num enorme caos, onde ninguém se entenderia, e se entender pra quê?
Mas as coisas poderiam também ser o contrário; quando você acordasse às 7h da manhã, ainda seria noite, noite essa que continuaria o dia inteiro, a semana, o mês, o ano. Viver na escuridão da noite ou na claridade do dia, o que seria melhor? Ou pior?
Tudo pode acontecer neste mundo; as geleiras não estão derretendo? Não estão existindo tsunamis? Não houve uma canícula na Europa há cinco ou seis anos, onde um monte de gente morreu com o calor? Então, não é nenhum absurdo pensar que o mundo pode virar um dia ou uma noite permanente; e quando isso acontecer, vamos todos, alegremente, enlouquecer.