Vendas à China empurraram PIB do trimestre; nos anos Lula, comércio exterior deu folga para alta do consumo
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FAZ CINCO anos e três meses que o nível de consumo privado é sempre maior que o do mesmo trimestre do ano anterior. Entre abril e julho de 2009, o consumo privado subiu 3,2% (ante abril-junho de 2008), segundo os dados divulgados na sexta pelo IBGE. O PIB, porém, caiu 1,2% nessa mesma comparação. O fato ajuda a explicar o prestígio luliano mesmo neste ano que deve ser de pibinho quase zero. Nos anos Lula, foi uma raridade o consumo privado cair enquanto o PIB subia -na verdade, só aconteceu em 2003. Nos anos FHC, pelo contrário. Ocorreram choques violentos, na maior parte de origem externa, e as contas e a dívida externas estavam em terrível desordem. Com os choques vinham altas radicais de juros, compressão de salários e redução da demanda doméstica de modo a evitar o risco de insolvência externa (que, enfim, só foi evitada mesmo com dinheiro do FMI). Essa pequena nota histórica vem a propósito do algo despropositado e ressentido desabafo de Lula ao comentar os bons resultados do PIB. Lula contra-atacou quem fizera troça do seu discurso da "marolinha". Mas nem Lula nem a maior parte de seu governo sabiam do que estavam falando por volta de dezembro de 2008, ou apenas mentiam, quando prognosticavam crescimento absurdamente alto para 2009 (que não ocorrerá). É fato que o governo tomou medidas anticrise eficazes. Reduziu impostos sobre consumo, fez bancos estatais substituírem o recuo dos bancos privados, liberou dinheiro parado no Banco Central, reduziu a taxa de juros etc. O governo (na verdade o BC) ainda arrumara a dívida pública externa, logo no início de Lula. A política de aumento do salário mínimo e a expansão de benefícios sociais ajudaram a sustentar o consumo doméstico e impuseram um piso mais alto para os salários do setor privado (formal e informal). A inflação contida ajudou a manter o poder de compra. A capacidade do governo Lula de investir e incentivar o investimento continua porém pífia. É bom notar, no entanto, que a contribuição do comércio exterior para o PIB do segundo trimestre foi mais importante que a do consumo doméstico. Peso grande tiveram as compras chinesas de soja, ferro etc. No ano, as exportações brasileiras para a China cresceram 22%. Para os EUA, caíram 45%; para a Argentina, 41%. Cerca de 80% das vendas brasileiras para a China são de produtos primários. Aliás, foi a grande expansão do comércio mundial, do consumo chinês em particular, que deu folga para que a economia pudesse acomodar o aumento do consumo doméstico nos anos Lula. O estímulo estatal à economia, na China ou nos EUA, evitou colapso maior do PIB e do comércio mundiais. Em parte, o Brasil pegou carona na capacidade americana de "imprimir" dinheiro e endividar-se e, também, na imensa poupança chinesa. A economia de Lula, é bom lembrar de novo, também ancorou-se no sistema de política macroeconômica implementado no final dos anos FHC (que Lula até melhorou). Lula poderia muito bem e com razão reivindicar o acerto de várias de suas políticas anticrise sem recorrer à discurseira jactanciosa. Mas gosta de depravar o debate público com seu personalismo salvacionista.
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