Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 26, 2009

A grosseria do governador de Mato Grosso do Sul

De deixar tuiuiú eriçado

Cuidado com o governador de Mato Grosso do Sul:
ele gosta de atacar como um jacaré de goela aberta


Fabio Portela

Fabio Motta/AE
Alan Marques/Folha Imagem
"Ele é v... e fuma maconha. Se viesse
aqui, eu ia correr atrás dele e estuprar
em praça pública."
André Puccinelli, governador de Mato Grosso do Sul, sobre o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente
"O governador devia examinar com
carinho o homossexualismo que
existe dentro dele e aceitar isso
com mais razoabilidade."
Carlos Minc, em resposta a Puccinelli


Se o leitor é daqueles que acreditam que a política brasileira já produziu toda baixaria possível, engana-se. Sempre surge alguém disposto a nos lembrar que o fundo do poço pode estar muito, muito mais embaixo. Foi o que aconteceu na semana passada, em Mato Grosso do Sul. O governador do estado, André Puccinelli, do PMDB, produziu a mais preconceituosa e destrambelhada declaração pública dos últimos anos. Ele estava furibundo porque o governo federal limitou a área do Pantanal que pode ser ocupada por plantações de cana-de-açúcar. A medida é boa para a preservação da natureza, mas, na visão de Puccinelli, atrapalhará a economia local. Com a sutileza de um jacaré de goela aberta, ele atacou o responsável pela restrição, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. "Ele é veado e fuma maconha. Se viesse aqui, eu ia correr atrás dele e estuprar em praça pública", disse o governador a jornalistas, em seu gabinete.

Minc, que é casado desde 1974, mas se orgulha de defender todos os tipos de diversidade, tanto a vegetal quanto a sexual, não tolerou a ofensa calado. Retrucou que a ameaça de estupro de Puccinelli revelava um gay enrustido. O ministro começou com ironia: "O governador tem uma visão interessante do homossexualismo: eu é que sou veado, mas ele é quem quer me estuprar". Depois, enveredou pela psicologia: "Freud explica que algumas pessoas que têm o homossexualismo enrustido tentam matar o homossexual que há dentro de si". Por fim, soltou também o seu lado jacaré de goela aberta: "O governador devia examinar com carinho o homossexualismo que existe dentro dele e aceitar isso com mais razoabilidade. Ele pode sair do armário que nós defendemos todos os homossexuais, assumidos ou enrustidos".

Diante da reação, Puccinelli divulgou uma nota naquele estilo consagrado pelos políticos brasileiros de pedir perdão sem pedir com todas as letras. Disse que só estava brincando e que, "na hipótese" de ter ofendido Minc, apresentava suas desculpas. Alguém precisa ensinar ao governador que ele não pode brincar com homofobia e estupro, crime previsto no Código Penal brasileiro. De qualquer forma, não é a primeira vez que Puccinelli se enrosca em metáforas sexuais. No começo do ano, ao falar sobre alianças regionais, causou mal-estar ao dizer que já havia levado todos os petistas de seu estado "para o motel". Em outra ocasião, ao inaugurar habitações populares, declarou que os novos moradores iriam poder "furunfar à vontade". Ordinariamente, costuma dizer que há inúmeras pessoas agarradas à sua "região pubiana", referindo-se aos bajuladores. "Com esse jeito falastrão, Puccinelli tornou-se o rei da pornopolítica. Ele é símbolo de uma elite arrogante e preconceituosa de Mato Grosso do Sul que, felizmente, já está em extinção", diz o senador Delcídio Amaral, do PT.

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