É surpreendente que as agências de classificação de risco estejam fora das listas das instituições que precisam ser mais fiscalizadas e mais supervisionadas para se evitar crises futuras. Elas mostraram atuação irresponsável. Não foram apenas os bancos que provocaram as bolhas. A crise aconteceu também por causa das agências.
Essas instituições têm a função de determinar o grau de risco inerente a um título de dívida. Elas trabalham com duas grandes categorias. Os títulos de nível especulativo são os que apresentam relativamente alto risco de calote. E os de nível de investimento são os mais seguros. As três grandes agências internacionais de classificação de risco são a Moodys, a Standard & Poors e a Fitch.
Elas hierarquizam o risco dos títulos por meio de uma escala alfanumérica. Os de risco praticamente zero levam, em geral, nota Aaa (na classificação da Moodys). Depois vêm os Aa1, Aa2.. Baa1, Baa2... Lá embaixo estão os de nível C.
As agências apareceram no início do século 20 para atender à necessidade dos investidores que não dispõem de condições para avaliar previamente a canoa financeira na qual estão embarcando sua poupança. Nos anos 70, organismos oficiais americanos passaram a exigir atestados dessas instituições, seja para a concessão de financiamentos no mercado, seja para proteger os interesses dos aplicadores.
Isso significa que, em certo grau, o mercado financeiro ficou dependente do veredicto dessas empresas, que assim se tornaram árbitras poderosíssimas quando entra em jogo a qualidade de um título. No entanto, a maior crise desde os anos 30 não teria acontecido se essas agências não tivessem feito farta distribuição de certificados de excelência a títulos que logo em seguida foram considerados ‘lixo tóxico ou ‘ativos podres e que, por isso, foram rejeitados por todos os bancos, o que aprofundou a crise. Isso demonstra que os critérios com que elas trabalham são no mínimo suspeitos e suas decisões, tomadas com certo grau de leviandade.
Mais do que isso, em meio à crise, aparentemente para salvar o que ainda restava de sua reputação, as agências passaram a trabalhar com uma rapidez nunca vista; logo elas, que, em geral, levam anos para mudar uma classificação, como aconteceu com os títulos de dívida do Brasil. Enquanto o mercado pegava fogo, elas se puseram a recarimbar como de nível C nada menos que US$ 1,9 trilhão em ativos que no dia anterior levavam AAA. Ou estavam erradas antes ou ficaram depois.
Pior que isso, essa corrida remarcatória acentuou a crise. Por disposição legal ou estatutária, um grande número de investidores, como fundos de pensão e carteiras conservadoras de títulos, só pode trabalhar com aplicações de risco zero. Por isso mesmo, foram obrigados a se desfazer imediatamente (e com enorme prejuízo) desses papéis, contribuindo assim para o aumento do pânico geral dos mercados.
Alguns analistas têm observado que as agências de classificação de risco são pagas pelos próprios emissores dos títulos, que, evidentemente, têm interesse na melhor nota possível, e que isso produz uma relação incestuosa com as consequências que se podem prever.
Mas, afinal, se é para dar segurança ao investidor, quando é que a atividade dessas agências será fiscalizada?