Imprensa, inimiga da corrupção
Miguel Gutierrez/EFE |
Gangues chavistas agridem repórteres em Caracas: as ditaduras simplesmente não conseguem conviver com uma imprensa livre |
De golpes militares repentinos a vitórias nas urnas seguidas da lenta e inicialmente indolor cocção das liberdades individuais, as ditaduras valem-se de variados caminhos para chegar ao poder e nele se perpetuar. Sejam quais forem as vias escolhidas, os regimes ditatoriais da nossa era têm, no entanto, um traço em comum: a tentativa de supressão da liberdade de imprensa. A história está repleta de episódios que confirmam isso. Por esse motivo, quando os governos de rótulo democrático começam a se empenhar na submissão das empresas jornalísticas e na violência contra seus profissionais, é sinal claro de que estão por vir rupturas das regras de convivência democrática. A Venezuela de Hugo Chávez é o exemplo mais acabado dessa regressão. O Equador de Rafael Correa vai pelo mesmo caminho, seguido pela Argentina dos Kirchner.
Por isso foi tão perturbador ouvir do senador José Sarney na semana passada a mesma argumentação usada por um troglodita como Chávez. "A mídia é inimiga das instituições representativas", disse o senador em um discurso em plenário, na sessão de homenagem ao Dia Internacional da Democracia. Seriam mesmo as instituições o alvo da imprensa, senador? Sarney vem ocupando as manchetes nos últimos meses nos mais prestigiosos órgãos de imprensa que cobrem os seguidos escândalos produzidos pelo despudorado uso dos bens e serviços do estado em benefício do clã Sarney. Por obra de um juiz amigo, o senador patrocinou uma ação de censura contra o jornal O Estado de S. Paulo. A imprensa brasileira, nesse e em outros casos, tem-se postado, portanto, como inimiga ferrenha não das instituições, mas de quem se empenha diuturnamente em corrompê-las.
A existência de uma imprensa livre é uma das manifestações mais claras do grau de civilização atingido pelas sociedades abertas. E a principal garantia do estado de direito. Por essa razão, ela é abominada pelas ditaduras e pelas plutocracias estatais. Pela mesma razão, torna-se o primeiro alvo de grupos políticos que pretendem perpetuar-se no poder ou dominar o estado em benefício de seus próprios interesses. Sem imprensa livre, não haverá mais o que celebrar no Dia Internacional da Democracia.