Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 04, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE Concentrado, mas diversificado



Sistema bancário vai ter concentração "européia", mas tem instituições estatais, privadas e estrangeiras fortes

O BRASIL vai ficar com cinco ou seis grandes bancos no final do processo de concentração, disse ontem Roberto Setubal, que presidirá o novo bancão brasileiro e mundial. Mas o mercado já é dominado por seis bancos. São dois federais (BB e Caixa), dois privados nacionais (Itaú-Unibanco e Bradesco) e dois estrangeiros (Santander-Real e HSBC). Isso não quer dizer que os bancos menores não tenham relevância no mercado -têm bom relacionamento com empresas pequenas, por exemplo; atuam no varejo do crédito ao consumidor etc.
Aos trancos e barrancos, porém, o sistema bancário brasileiro acabou ficando com um formato interessante para a tranqüilidade financeira do país. Nestes dias de crise, até o setor privado começou a dizer que a atuação de BB e de Caixa pode ser estabilizadora. Há dois fortes bancos privados nacionais, Bradesco e Itaú-Unibanco, e dois concorrentes estrangeiros de peso, para não deixar ninguém acomodado. A diversidade é relevante. Imaginem se o sistema bancário fosse todo dominado por bancos americanos e ingleses meio quebrados ou ao menos alquebrados. Não seria bom.
E o Bradesco, agora? Para ficar com um tamanho parecido com o do novo Itaú-Unibanco (IU), no que diz respeito a ativos, o Bradesco teria de adquirir bancos médios, que são poucos. Ou abocanhar quase uma dezena de bancos menores, o que é inviável prática e estrategicamente.
Mas o Bradesco precisa acompanhar o IU no páreo? Qual o ganho de aparecer no "photochart"? A gente ouve pessoas entendidas em bancos e quase todos dizem: "O movimento do Itaú e do Unibanco vai detonar uma nova onda de concentração bancária". Quando se pergunta se haveria interesse econômico para o Bradesco comprar algum dos bancos ditos médios, os entrevistados já fazem expressão de dúvida. Dizem algo como "sim, é preciso avaliar caso a caso e fazer estudos profundos sobre a complementaridade dos bancos etc.".
Quanto ao volume de depósitos à vista, pelos dados ainda de junho, Banco do Brasil (32%) e Bradesco (20%) tinham, como se vê, mais de metade do mercado. O novo IU terá pouco mais de 13% dos depósitos à vista. Mas os dez maiores bancos no país têm, juntos, 93,5% dos depósitos à vista -o último desta fila é o Citi, com 1,5% do total. A Nossa Caixa tem 2,7%. Nessa área, só há como crescer com compras em massa.
Na área de "private banking" (banco para muito ricos), o IU é líder. O Bradesco vai continuar a liderar em previdência. No total de operações de crédito, a liderança ainda fica com o BB, mas o IU deve passar o Bradesco. Para onde o Bradesco vai crescer? Para a área de grandes fortunas? Para todas as áreas do campo? Para fora do país?
É preciso lembrar ainda que o crédito bancário é uma fatia pequena do PIB brasileiro. Os bancos podem crescer "organicamente", como se diz, mas isso leva tempo.
De qualquer modo (e a depender dos efeitos da concentração sobre os clientes), a fusão (ou aquisição) do dia é uma notícia muito mais positiva do que negativa. É melhor um bancão forte com disposição de se tornar internacional do que um monte de rumores sobre a saúde financeira de sicrano ou beltrano.

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