Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 12, 2006

Tasso, presidente do PSDB, não descarta apoiar candidatura de Ciro Gomes em 2010


Huummm... Observem bem. Há algo de estranho neste tucano...


Num Roda Viva com atuação impecável da jornalista Renata Lo Prete, editora do Painel da Folha, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) revelou-se por inteiro na noite desta segunda. Há tempos eu não via um programa render tanto. Afinal, não é toda hora que o presidente do principal partido de oposição diz que, sob certas condições, pode, sim, deixar de fazer campanha para o candidato de seu partido à Presidência em 2010. Indagado por Renata se apoiaria a eventual candidatura de Ciro Gomes, ele afirmou que sim, já que seu primeiro compromisso é com Ceará!!! Bem, como diria Padre Vieira, “pelo costume, quase se não sente”. Tasso fez campanha para seu amigo, então no PPS, em 2002, e, neste 2006, abandonou o tucano Lúcio Alcântara em seu Estado. Embora negue, ficou com Cid Gomes, irmão de Ciro.

O homem que, em dado momento, chegou a falar sobre a necessidade de rever os fundamentos e os postulados do PSDB depois da queda do Muro de Berlim não conseguia fugir um só minuto de sua aldeia. Fosse um tucano mixuruca, do bico quebrado, vá lá. Mas atenção: é nada menos do que o presidente da sigla. A autoridade partidária máxima afirmou que, se o Ceará pedir (isto é, se Ciro for candidato), ele não vota no candidato do seu próprio partido. Se ele não confia integralmente nos tucanos, por que os eleitores deveriam confiar? É um escárnio. Se permanecer na presidência da sigla, o PSDB estará escolhendo um destino: a irrelevância.

Mas prestem atenção! Tasso não ficaria com Ciro sob qualquer circunstância? Ah, isso não!!! Se o atual deputado federal do PSB continuar “com esse pessoal”, não dá. E revelou uma coisa ainda mais surpreendente: “Eu já falei isso a ele”. Entenderam? O presidente do PSDB já debateu com um possível adversário do PSDB as condições para trair o seu partido. Assistiaa à entrevista, no estúdio, José Aníbal (SP), deputado federal eleito por São Paulo e ninguém menos do que ex-presidente da legenda, e Paulo Renato Souza, também deputado eleito e ex-ministro da Educação.

Em qualquer partido do mundo — NOTEM BEM: DO MUNDO!!! —, tal presidente seria convidado a entregar o cargo. Não no PSDB. Não vai acontecer nada. Ora, é muito natural que o homem mais poderoso da sigla conspire abertamente contra ela. Franqueza não lhe falta, certo?

Indagado por Renata — sempre ela — se não foi um erro ter optado por Geraldo Alckmin em detrimento de José Serra, Tasso jurou de pé junto que não. E se saiu com uma explicação estupenda: ninguém ganharia de Lula. Como assim? Não entendi, então, se Alckmin foi escolhido apenas para boi de piranha, já que a derrota era certa, ou se o senador estava só tentado justificar a estupidez tucana: rejeitar quem tem o dobro para ficar com quem tem a metade. Estou inclinado a achar que é a segunda hipótese. E por que Lula era imbatível? Ah, por causa dos programas assistencialistas. Certo. Mas eles são bons ou são maus? Ou Lula deveria deixar de tê-los para que o PSDB pudesse ganhar eleições com mais facilidade?

Tasso negou ainda que seja dúbia, tíbia, ambígua e anfíbia a posição do PSDB na disputa pela presidência do Senado. Assegurou que todos os senadores tucanos, menos um, votarão em José Agripino Maia (PFL-RN). O presidente de partido que admite abandonar (de novo!) a própria legenda numa disputa presidencial negou que os tucanos façam corpo mole. Não sei, não. Até Tereza Cruvinel se mostrava decepcionada com a anemia oposicionista do partido. É um sinal de que o PSDB está mal de bico.

De novo, a aldeia
Se Renata se destacou no programa, é preciso observar que Sérgio Lírio, da Carta Capital, também. Editor de política da revista — que chamo de Cartilha Capital (a cartilha que existe...) —, tentou negar, ao vivo e em cores, o mensalão. Ruim de retórica, enrolou-se todo e se mostrou um amador no minocartismo. Mas encaixou uma boa pergunta, chance para Tasso dar mais uma resposta interessante. O senador criticava a postura do governo brasileiro no caso da Petrobras, roubada pelo governo boliviano. Lírio quis saber o que ele faria de diferente. Na resposta, o presidente do PSDB indignou-se: lembrou que o aumento do preço do gás prejudicava a siderurgia do Ceará...

Tasso é mesmo um homem preso a suas raízes. Até quando quando pensa questões de política externa, vê-se, tem no horizonte a vida dos seus conterrâneos. Ah, é verdade: elogiou FHC e Serra quando, respectivamente, presidente e ministro. Os dois, assegurou, foram muito bons para o... Ceará. E acusou Lula de não ser lá grande coisa para o Nordeste. Exemplo dado: a Sudene não saiu do papel.

Quem (re)inventou e anunciou a Sudene de papel foi Ciro Gomes, a Capitu do Ceará, que pode tragar Tasso quando quiser com seus olhos de ressaca.

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