Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 12, 2006

Quem chega aos 60 e é de esquerda tem problema, afirma Lula em solenidade em que é premiado pela IstoÉ, aquela do dossiê


Presidente Lula é cumprimentado pelo editor responsável da Editora Três, Domingo Alzugaray, durante cerimônia de entrega dos prêmios Brasileiro, Empreendedor e Personalidade do Ano, concedidos pelas Revistas IstoÉ, IstoÉ Dinheiro e IstoÉ Gente. Ao lado de Lula, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Por José Alberto Bombig e Marcelo Sakate na Folha de hoje: “Ao ser homenageado ontem pela revista IstoÉ, publicação da Editora Três, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou risos na platéia quando afirmou que a ‘evolução da espécie humana’ caminha para o centro no que diz respeito ao espectro político. Segundo o petista, reeleito para mais quatro anos e historicamente ligado à esquerda, ‘se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas’. Entre os convidados do evento (cerca de 900 pessoas), realizado em um luxuoso hotel de São Paulo, estavam ministros, artistas, esportistas, banqueiros, empresários, deputados, senadores e socialites. As declarações de Lula, o grande homenageado da noite, vieram após um comentário sobre as altas taxas de crescimento de governos anteriores ao dele, como os da ditadura militar. Ele evocou o ex-ministro Delfim Netto para dizer que se considera hoje no ‘centro’, em busca de ‘equilíbrio’. ‘Eu agora sou amigo do Delfim Netto (...) Porque eu acho que é a evolução da espécie humana, quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito, se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas. Então, quando a gente está com 60 anos, doutor [Antonio] Ermírio, é a idade do ponto de equilíbrio em que a gente não é nem um nem outro. A gente se transforma no caminho do meio, aquele caminho que precisa ser seguido pela sociedade.’”

Discurso delinqüente

Na solenidade em que foi premiado pela revista IstoÉ, aquela da entrevista arranjada de Luiz Antonio Vedoin, Lula afirmou que um homem que chega aos 60 ainda na esquerda tem problema. Uau! Com a palavra Marilena Chaui e os Emirados Sáderes, não é mesmo?, que se oferecem para ser seus prosélitos na universidade. Trata-se de um discurso de pura delinqüência política. Pessoalmente, nunca acreditei — podem pegar o que escrevi — que Lula fosse um esquerdista ao velho estilo. Eu o chamo “burguês do capital alheio”, representante de uma nova classe social empenhada em se perpetuar no poder e em se reproduzir no aparelho de Estado.

Isso não quer dizer que Lula não seja um perigo. É! Ele, seu amigo um pouco mais apimentado, Hugo Chávez, e outros menos cotados. Está em curso no Brasil a tentativa de construção de um neocaudilhismo. Como se encontrava ontem entre doutores e alguns pesos pesados do capital, Lula fez a sua graça para divertir os presentes. Aliás, nisso ele se sai com notável desenvoltura. Sabem o que penso da esquerda — está abaixo, nos textos em que tratei da morte do ditador Pinochet. Mas ela ainda pior do que escrevi. Porque também não se respeita. Ouvirá calada a piadinha de Lula, com a bocona aberta, ávida pelo que sobra do repasto lulesco.

Em tempo: lembrando sua amizade com Delfim Netto, Lula disse que, quando os homens ficam de cabelos brancos, tudo muda. Delfim nunca ficou com o cabelo branco...

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