Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, dezembro 19, 2006

FHC está descontente com a lentidão do PSDB



FHC está descontente com a lentidão do PSDB

Isto não é um tucano...
Como se verá abaixo, a bancada paulista do PSDB, ao menos esta, decidiu acordar para a realidade e se opor ao aumento de 91% para os parlamentares. Há aí o estímulo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele está bastante descontente com o comportamento do seu partido neste como em outros episódios. Mas a questão do reajuste, avalia, é especialmente importante porque remete àquela agenda mais ampla, alternativa, a que seus correligionários teriam de estar atentos. Na sua opinião, o partido deveria ter-se mobilizado contra a decisão. Também acho. Cobro isso aqui desde quinta-feira.

É... Mas não se mobilizou. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), por exemplo, até quis saber por que um ministro do STF merece ganhar mais do que um senador... Eu seria tentado a dizer que a resposta, sem que ele o saiba, já está contida na pergunta. Vejam vocês: FHC está atento e operando politicamente. Já o que pensa o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que está no Congresso e preside o partido, bem, isso eu não sei. O ex-presidente é também peremptório sobre um outro tema: não há a menor possibilidade de o PSDB compor com o PT nos Estados. Considera a hipótese descabida. No que, vejam vocês, está certo mais uma vez.

Essa história toda do reajuste dos parlamentares evidenciou, com efeito, a falta de sintonia entre o PSDB e as ruas. Política se faz a toda hora, nos 365 dias do ano, em todos os lugares, e não apenas em períodos eleitorais ou no exercício, ainda que virtuoso, da administração. Vejam o noticiário de hoje. Já há uma certa conflagração no PT. Um grupo de petistas até assinou um projeto de Decreto Legislativo para que o salário seja reajustado pela inflação. O PSDB, como vemos, parece estar sempre com uma duas doses de atraso... Demora para reagir, resiste em empunhar bandeiras, faz-se sempre caudatário da ação de terceiros.

Corre um grande risco. O partido tem tudo para ser o porta-voz dos interesses das classes médias urbanas, o que é perfeitamente demonstrado pelo mapa eleitoral. Mas parece ser perseguido por uma contínua sonolência, por um certo sonambulismo institucionalista, que repudia as ruas. Se o poder fosse dado a quem tirasse a melhor nota num vestibular, ok. Mas a política, feliz e infelizmente, não é assim. Precisa de voto. Os tucanos, por enquanto, quando percebem um clamor público, mudam de calçada para não se comprometer.

FHC está percebendo os problemas no tempo certo. É uma pena que não queira ser o presidente do PSDB, dando-lhe o norte político, ainda que o dia-a-dia da vida partidária fosse administrado por um grupo de políticos com funções executivas. Não tenho a menor dúvida de que seria a melhor saída.

PS: A bancada da Igreja Universal do Reino de Deus — acreditem: um telejornal da TV Record noticiou a coisa nesses termos — decidiu abrir mão do reajuste que vai além da inflação, depois de “descontados os impostos”, e doar a uma entidade assistencial ligada à própria Universal. Mobilizar-se contra o aumento? Não, isso nem pensar. Deixa a Igreja salvar almas com o nosso dinheiro...

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