Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, maio 13, 2005

TEORIA CONSPIRATÓRIA

Parecem levianas as declarações do ministro José Fritsch, da Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca, considerando "precipitada" a divulgação, por parte das autoridades sanitárias, de um surto de doença parasitária associada ao consumo de peixe cru, que se registrou na cidade de São Paulo.
Fritsch em nenhum momento nega os dados oficiais paulistas, segundo os quais se verificaram, entre março de 2004 e maio deste ano, 42 casos de difilobotríase, moléstia intestinal provocada por parasitas do gênero Diphyllobothrium, até então praticamente desconhecida no Brasil. As suspeitas recaíram sobre o salmão, que é um hospedeiro freqüente do parasito, principalmente quando consumido cru.
O ministro preferiu fazer acusações vagas e denunciar um suposto "complô internacional" para prejudicar os produtores chilenos. Partindo de um alto funcionário do governo brasileiro, tal insinuação não poderia ser lançada sem o apoio de fatos ou explicações razoáveis. Fritsch, no entanto, não sugeriu quem poderia ser o responsável ou mesmo quem se beneficiaria dessa suposta campanha difamatória.
O que há de particularmente grave no discurso do ministro são suas implicações. Se ele não nega os casos e diz que houve precipitação da Secretaria de Estado da Saúde, está sugerindo que o poder público deveria ter escondido os dados epidemiológicos da população, de modo a não prejudicar os negócios dos pescadores chilenos e, mais proximamente, dos comerciantes brasileiros.
É lamentável que um secretário especial com status de ministro ainda pense, como já haviam feito os governantes militares no caso das epidemias de meningite nos anos 70, que a melhor defesa contra patógenos é o segredo de Estado.
É verdade que os números da difilobotríase não são particularmente preocupantes. A suposta insignificância, porém, de modo algum autoriza o poder público a faltar com seu dever de agir com transparência.
FOLHA DE S PAULO EDITORIAIS

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